São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 1997
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Meu dia na casa de mr. Sheffield

MARCELO MANSFIELD
ESPECIAL PARA A FOLHA

O clima de gravação não poderia ser melhor: Fran Drescher, a estrela e produtora de "The Nanny" entra no cenário com seu penteado que rivaliza em altura com o Cristo Redentor, brincando com Daniel Davis, que faz o mordomo Niles.
Benjamin Salisbury, o adolescente Brighton, conversa com o pessoal da equipe. Lauren Lane, a bonitona miss Babcock circula pelo "set" carregando seu barrigão de futura mamãe, e Charles Shaughnessy vem me encontrar para uma rápida entrevista na entrada dos Culver Studios, ex-quartel-general de David Selznick, com sua fachada que imita a mansão de Tara em "...e o Vento Levou".
Simpaticão, esse inglês filho de pai escritor e mãe atriz confessa que se inspirou em dois de seus conterrâneos para criar o sofisticado mr. Sheffield: Cary Grant e David Niven.
Depois de aparecer na TV inglesa em "Partners in Crime" e "The Jury", mudou-se para Los Angeles para casar com a atriz Susan Fallander. Vendeu vídeos adultos e depois tentou ser detetive particular. Pode-se dizer que bateu um recorde: trabalhou só um dia nisso!!!
Depois, esse "Mário Fofoca de Cambridge" acabou caindo na novela "Days of Our Lives", onde ficou por sete anos e levou três prêmios.
Foi então que apareceu uma babá em sua vida.
No sofá de seu camarim particular no segundo andar do estúdio, nem parecia que estava eu conversando com o fleumático inglês do seriado. Aliás, nem parecia que eu estava num camarim, pois o local é uma sala bem decorada com TV, quadros, sofás e luminárias.
Bastante à vontade depois que revelei também ser ator, ele falou sobre cinema -que só pode fazer durante as férias do programa-, sobre teatro e sobre os filhos.
Sobre o seriado, ele acha que "The Nanny" não deve se casar com o patrão, e que o público percebe que a gravidez de miss Babcock é da atriz, e não do personagem.
Falamos sobre a diferença de sotaques, ele inglês da alta, ela, com sua voz de taquara rachada do Queens nova-iorquino, os filhos criados em plena Quinta Avenida e o ar bostoniano da sócia C.C..
Shaughnessy disse ter boas amizades no elenco e até já esteve com Daniel Davis num festival de teatro em Massachusetts.
O ator revelou-se também um admirador dos talentos de escritora de Rene Taylor (a mãe judia de Fran Fine, a babá) e se disse impressionado de acompanhar o crescimento e o amadurecimento de seus filhos na ficção.
Enfim, o caretão mr. Sheffield é fã de carteirinha de seus colegas.
A conversa correu solta. Fiquei feliz em conhecer alguém que fala mais do que eu. Aliás falei isso para o próprio. E engraçado essa coisa de ator: ali conversando, reparei que Charles Shaughnessy me lembrava, fisicamente, Marcelo Serrado.
Karen, a assessora dele, que se parece com Meryl Streep e que também é boa de conversa, anunciou que o ator tinha de voltar ao "set". O ritmo das gravações é puxado -ele sequer pôde ir à pré-estréia de seu último filme, "Denial".
Descemos para o estúdio, onde tomei um galão de café americano e meia dúzia de Donuts, que imediatamente se alojaram na minha cintura. Circulei por ali, acenei para Rachel Chagall, que faz a amiga Val, vi a peruca de Silvia e de Yetta na cabeça de isopor da sala de maquiagem, assisti a mais um bom pedaço do episódio do dia e fui circular pelo velho estúdio.
Entrei no meu carro alugado e fui parado pela polícia por desrespeitar a faixa de pedestres em frente aos estúdios da MGM.
Depois de passar o dia no cenário de "The Nanny", parecia que eu estava num episódio de "Chips". Coisas de Hollywood...

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