São Paulo, domingo, 2 de fevereiro de 1997
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Excesso de timidez prejudica carreira

Insegurança leva à estagnação profissional

LUÍS PEREZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Meses, quem sabe anos de empresa, trabalhando direitinho. De repente, surge uma oportunidade de ouro: falar para uma platéia de centenas de pessoas, composta de funcionários e clientes.
Parece fácil. É só chegar e falar. O profissional sobe no palco e vê centenas de olhos esperando que ele diga algo de novo e atraente.
Tudo pode acontecer. O que acontece justamente nessa hora em que ele precisa brilhar? Ele trava? A vontade é que uma fenda se abra para pular e desaparecer?
Os sintomas podem ser dos mais leves -gagueira, tremedeira e sudorese- até os mais radicais -desmaios e choro compulsivo (veja quadro ao lado).
A timidez -tanto na hora de falar em público quanto no trato pessoal- já comprometeu a carreira de muita gente muito boa.
Se alguém que tem potencial, muitas vezes com cursos no exterior, conhece profundamente sobre um assunto, é convidado a falar sobre ele em público e não consegue, algo está errado.
Dependendo do tipo de timidez, ela pode ser tratada em um dos vários cursos de comunicação verbal do mercado, com psicoterapia ou por meio de outras técnicas.
"Em nosso curso, lidamos com os vários medos, chamados genericamente de timidez", diz Reinaldo Passadori, 42, diretor do instituto que leva o seu nome.
Já passaram pelo seu curso "Como Vencer a Timidez" mais de 10 mil pessoas em 12 anos. Dessas, a metade apresentou problemas sérios com esses medos.
Decisão tardia
Para um profissional de marketing, ser desenvolto é essencial. "Timidez pode prejudicar e muito. Teria feito carreira diferente se tivesse procurado combater a timidez antes", conta Lydia Christina Damian, 26, supervisora de marketing da metalúrgica Vulcão.
Ela fez um curso de comunicação verbal em São Paulo. "Hoje ainda fico vermelha, mas dou palestras, fico mais segura. E teria começado a trabalhar mais cedo se não fosse a inibição."
Insegurança pode fazer com que a pessoa fique estagnada, sem promoção, apesar de ótima produtividade. Principalmente se a empresa não tem indicadores lógicos e técnicos para aferir o desempenho.
Isso desemboca na desmotivação e no fim de uma carreira que poderia ser promissora.
Se medo e timidez são muito intensos e detectados desde cedo, em vez de um curso, a pessoa pode ter de lançar mão de anos de terapia.
Quando criança, a estudante de direito Lara de Andrade, 21, só ficava na escola se a mãe estivesse junto. Aos oito anos, já fazia terapia para combater o medo.
"Sentia que isso poderia prejudicar. Se você não sabe agir com segurança, não vai cuidar bem dos negócios de outro", raciocina.
Adolescente, voltou à terapia. Aos 18, passou por uma prova de fogo: morou sozinha um ano em Londres. Hoje não se acha tímida -e segura numa boa um estágio.

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