São Paulo, domingo, 2 de fevereiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Duas faces

JUCA KFOURI

Como em todas as áreas, há deputados e deputados.
O deputado federal Augusto Carvalho (PPS-DF), por exemplo, acaba de oficiar ao presidente do Tribunal de Contas da União pedindo uma ampla auditoria nas verbas públicas destinadas ao esporte, impressionado com as corajosas entrevistas do técnico de vôlei Bebeto de Freitas denunciando o injusto esquema de repartição de lucros imposto pela CBV.
Sem questionar o "notório sucesso esportivo da CBV", como faz questão de frisar, o deputado levanta dúvidas que "precisam ser esclarecidas em favor da moralidade e da ética no vôlei brasileiro".
Sem prejulgar, o deputado desempenha o papel que seus eleitores esperam dele, o de fiscal do dinheiro do contribuinte.
Para não ser objeto de dúvidas semelhantes, por sinal, a CBF, já faz tempo, tratou de desistir de engordar seu cofre com verbas públicas -o que, no entanto, não deveria eximi-la de ser rigorosamente fiscalizada pela Receita Federal, tanto no que diz respeito à entidade, pessoa jurídica, como em relação às pessoas físicas que a administram.
*
Já o deputado federal Benedito de Lira (PFL-AL) tem outras preocupações. Autor do parecer que concluiu pela inocência de seu colega Marquinho Chedid (PSD-SP), apesar das inúmeras provas coletadas, incluindo gravações de telefonemas, Lira gosta de confundir.
Tanto que, ao apresentar seu parecer na última terça, em tom de blague, disse que havia recebido um telefonema meu perguntando que se era verdade que ele viria a ser padrinho de casamento de Marquinho Chedid. "Ao que sei, o deputado é casado há muito tempo", teria me respondido, para risadas gerais.
Pois Lira mentiu.
Telefonei diversas vezes para ele sim, para saber do andamento do processo. Numa dessas vezes, chequei se era verdade que ele havia sido padrinho de casamento de Nabi Abi Chedid, pai do deputado acusado de extorquir donos de bingos.
Ele negou, dizendo mal conhecer os Chedid.
Acreditei e contei ao leitor. Diante da mentira de terça-feira, é razoável julgar que faltou com a verdade também quando me respondeu.
Suas mentiras não teriam a menor importância, não fosse pelo fato de que outros 31 deputados acolheram seu parecer e apenas 10 votaram pela cassação de Chedid.

Texto Anterior: Adeus, Soriano; Adeus, Michailidis; Adeus, sorvetes
Próximo Texto: Cruzeiro estuda a criação do cargo de ombudsman
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.