São Paulo, quinta-feira, 6 de fevereiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Saúde cria comissão para definir uso da talidomida

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um debate em torno da ampliação ou maior restrição ao uso da talidomida vem colocando em campos opostos médicos especialistas e entidades que reúnem as vítimas dessa droga.
O emprego da talidomida por mulheres grávidas provocou o nascimento de cerca de 15 mil crianças sem pernas ou braços entre os anos de 1957 e 1962, no mundo todo. No Brasil, onde o medicamento voltou a ser produzido para doentes de hanseníase, 62 "vítimas da segunda geração" já foram identificadas.
Para arbitrar a questão, o Ministério da Saúde nomeou uma comissão que deve propor uma nova portaria definindo a produção, o controle e as doenças que podem ser tratadas com a talidomida. A comissão tem até o próximo mês para apresentar propostas.
Pelas portarias em vigor, o uso da droga só é permitido para tratamento de reações da hanseníase, exceto para mulheres em idade fértil. Mas, na prática, cerca de 30% dos 3 milhões de comprimidos distribuídos na rede pública no ano passado foram usados para vítimas de outras doenças.
O uso oficioso estaria aumentando os riscos de má utilização do remédio. Um único comprimido tomado nas primeiras semanas de gravidez basta para provocar malformações graves no feto.
"Precisamos de regras que definam quem vai usar, em quais situações e com que cuidados", diz a médica Maria Leide de Oliveira, coordenadora nacional da Dermatologia Sanitária do ministério.
Os médicos que defendem uma ampliação no uso da droga afirmam que a talidomida vem sendo de grande ajuda no tratamento de uma série de doenças, além da hanseníase.
"Não se pode proibir totalmente uma droga capaz de tantos benefícios", afirma o dertamatologista Sebastião Almeida Prado Sampaio, professor emérito da Faculdade de Medicina da USP. Ele é um dos autores de um parecer da Academia Nacional de Medicina sobre a questão (leia texto nesta página).
A Associação dos Portadores da Síndrome da Talidomida informou que "lutará de todas as formas" para impedir uma maior liberalização no uso da droga. "Os médicos que desejarem prescrever a talidomida devem ter autorização especial da Vigilância Sanitária e serão responsabilizados pelas consequências", diz a presidente Claudia Marques Maximino.

Texto Anterior: Matrículas no 2º grau aumentam 7,5%
Próximo Texto: Parecer quer facilitar prescrição
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.