São Paulo, quinta-feira, 6 de fevereiro de 1997
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Nova lei de doação de órgão causa mudança em hospitais

Médicos defendem que instituições passem por reciclagem

CRISPIM ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A nova lei que regulamenta a doação de órgãos vai fazer com que os hospitais, principalmente os que recebem casos de politraumatizados -geralmente vítimas de acidentes-, passem por uma espécie de reciclagem.
A lei, sancionada anteontem pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, torna todo cidadão um doador potencial, caso ele não manifeste uma vontade contrária em documento. É a chamada doação presumida.
Segundo Noedir Stolf, diretor da divisão de cirurgia do Incor (Instituto do Coração) de São Paulo, a lei elimina apenas um dos obstáculos envolvidos em processos de transplantes, a oferta de órgãos.
"Há outros obstáculos, como a comunicação tardia à central de captação, por parte dos hospitais, de um paciente com morte cerebral."
Ele afirma também que não há uma cultura de se tratar um caso de morte cerebral como o de um outro paciente qualquer.
Para se aproveitar os órgãos de um paciente com morte cerebral é preciso manter o organismo funcionando artificialmente (corrente sanguínea, batimentos cardíacos e respiração) com aparelhos e drogas, em uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Só assim os órgãos são preservados até serem extraídos.
"Os hospitais precisam ter essa cultura. Por isso, terão que passar por um programa de reciclagem periodicamente", afirmou Stolf.
"Será preciso uma maior conscientização dos hospitais de que aquele órgão pode salvar a vida de uma outra pessoa", declarou Silvano Raia, chefe da unidade de fígado do HC (Hospital das Clínicas) de São Paulo.
"Com certeza, a gente vai precisar passar por uma reciclagem, pois somos uma unidade doadora", afirmou Thomaz Antonio Cardoso de Almeida, diretor técnico do hospital do Jabaquara, um dos que mais recebem casos de politraumatizados da cidade.
Almeida, no entanto, não sabe ainda por qual tipo adaptação o hospital vai ter que passar. Ele aguarda a regulamentação da lei de doação.
"Não sabemos ainda se seremos nós que teremos de manter o futuro doador com o sangue circulando. Isso custa dinheiro, e queria saber de onde vai vir", declarou o diretor.

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