São Paulo, sexta-feira, 7 de fevereiro de 1997
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Produção remete a "Hair" e "Angels in America"

NS
DO ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

" 'Rent' é sobre uma comunidade celebrando a vida, em face da morte e da Aids, na virada do milênio." A descrição é do autor/compositor de "Rent", Jonathan Larson, que morreu do coração logo depois do último ensaio, sem ver a repercussão gigantesca do musical que compôs, inspirado por "La Bohème", de Puccini.
Aqui não se trata de tuberculose, mas de Aids. Mimi e Roger -este a versão de Rodolfo, da ópera- estão longe do romantismo que rondava apaixonadamente a morte. "Celebram a vida", na expressão do compositor. Pregam uma fraternidade -étnica, de gênero- de fazer enjoar os mais politicamente incorretos.
Em suas várias camadas de paralelos, "Rent", em cujo enredo quatro dos seis ou sete protagonistas têm HIV, tem muito também de "Hair", musical de exatos 30 anos atrás, sempre em "downtown New York", agora no East Village. E agora não mais o Vietnã, mas a Aids; e sempre as drogas.
Tem muito também de "Angels in America", em sua alegoria do fim do milênio e do anjo na forma de uma drag queen com Aids. Com seus múltiplos enredos entrecruzados, dando trama própria a cada personagem, é como "Angels" musicada.
Mas é mesmo "La Bohème" o maior guia nesse musical de estranhas, mas belas criações. Um quadro em particular, uma música, vem diretamente do enredo da ópera. Mimi procura Roger para que acenda uma vela, no prédio decaído em que todos moram, sem luz.
"Light My Candle", na voz cortada de Daphne Rubin-Vega, Mimi, que está para morrer de Aids, que treme por falta de heroína, que arruma arruma dinheiro como dançarina num bar sado-masoquista, nasce como clássico.
Como "Send in the Clowns", de Stephen Sondheim, maior influência e também o maior incentivador de Jonathan Larson.
Na música, o mesmo realismo agudo casado à mais incontrolável emoção, enquanto Mimi suplica e ao mesmo tempo se insinua. Belíssimo.

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