São Paulo, sexta-feira, 7 de fevereiro de 1997
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AUTOCRÍTICA DO CAPITAL

O Fórum Econômico Mundial, encontro realizado na cidade de Davos, na Suíça, colocou na agenda dos mais importantes líderes políticos e empresariais mundiais um desafio novo: a busca da autocrítica.
O apelo final do encontro é pela recuperação das preocupações de ordem ética, social e cultural, no contexto de uma economia global em que até bem pouco tempo atrás predominavam discursos ingenuamente eufóricos com o potencial de desenvolvimento econômico e sobretudo tecnológico no século 21.
Não faltam motivos para dar prioridade às dimensões de fato humanas da organização econômica, a começar pelo desemprego (ontem mesmo divulgou-se uma taxa recorde de desemprego na Alemanha, um país que chegou a ser considerado modelo de reconstrução social e econômica).
Além do desemprego, existem novos fatores de exclusão social, como a rapidez da revolução digital nas atividades econômicas, o fracasso generalizado dos sistemas de previdência e a inaceitável perpetuação, em diversos países, de situações de miséria absoluta, fome, violência e estagnação econômica, na Ásia, na África e na América Latina.
As mudanças atualmente em curso exigem uma revisão de valores por parte de empresários e lideranças políticas. Assim, se a globalização cria fantásticas oportunidades de conquista de mercados e de expansão, sobretudo para as empresas multinacionais, a própria organização empresarial passa a enfrentar desafios de ordem cultural e social.
Na prática, se os Estados perdem autonomia financeira ou capacidade gerencial em políticas sociais relevantes (como no caso da previdência), coloca-se para as empresas o desafio de construir sistemas alternativos, de tal sorte que os trabalhadores não acumulem déficits de cidadania e segurança social.
Talvez nunca tenha sido tão necessário o capital assumir responsabilidades sociais. Essa é a mensagem mais importante de Davos.

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