São Paulo, domingo, 9 de fevereiro de 1997
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As ilusões inseridas

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Conseguir ludibriar os meios de comunicação, vistos como os maiores vilões dos tempos modernos, tem sido um grande prazer para os "novos rebeldes".
Abaixo, três casos recentes:
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O mergulhador incendiado - Bombeiros encontraram o corpo de um homem, vestido com equipamento completo de mergulho submarino, em meio às cinzas de um incêndio ocorrido numa floresta, numa cidade da Califórnia (Costa Oeste dos EUA), distante mais de 18 km do oceano Pacífico.
Como aquele corpo foi parar lá? O mergulhador nadava tranquilamente no mar quando um helicóptero da Guarda Florestal, que carregava um daqueles gigantescos tanques de água para combater o incêndio, "pescou" o homem junto com a água que iria ser usada para apagar o fogo na floresta.
Essa notícia, irresistível, mas obviamente falsa, foi divulgada no primeiro semestre de 1996 por uma rádio de grande audiência em Milwaukee, no Estado de Wisconsin. Uma rádio de Los Angeles quase a divulgou (uma checagem de última hora evitou o vexame).
A notícia também chegou à redação de inúmeros meios de comunicação americanos, como a rede CNN, a revista "Rolling Stone" e o jornal "Los Angeles Times", que desconfiaram e não a divulgaram.
Um jornalista do Discovery Channel Online se deu ao trabalho de investigar como essa notícia teve origem, mas não conseguiu rastrear a sua gênese.

A aliança incorreta - A convocação para um congresso de integrantes da Aliança dos Politicamente Incorretos do Sudeste foi noticiada por uma série de jornais do Estado do Tennessee, nos EUA.
Os jornais foram informados do encontro por meio de um "press release" (nome que se dá ao texto enviado por assessorias de imprensa a jornais, revistas e TVs para divulgarem informações).
Na verdade, o encontro jamais ocorreu. Foi uma invenção de uma turma de alunos de jornalismo da Universidade do Tennessee, interessados em ver se os jornais têm o hábito de checar as informações que recebem por press releases.
Recomenda-se sempre checar antes de publicar uma informação recebida por press release -os jornais que fizeram isso no caso da Aliança dos Politicamente Incorretos foram informados que se tratava de um trote. Os que não checaram e publicaram o falso encontro foram informados pelos estudantes somente a posteriori que noticiaram algo que não existia.
No dia que ocorreria o falso congresso, alguns estudantes acamparam no local onde ele seria realizado para pedir desculpas às pessoas que leram a notícia nos jornais e se dirigiram ao ponto anunciado.
Parada do Dia dos Tolos - A imprensa de Nova York foi convidada a noticiar um grande evento, que ocorreria no dia 1º de abril de 1995: a Coroação do Rei dos Tolos no Dia dos Tolos. A parada iria se realizar na Quinta Avenida, a mais famosa de Nova York.
O evento, que obviamente não houve, contou com cobertura do jornal "New York Post" e de uma estação de rádio local.
A invenção dessa fraude foi obra de Joey Skaggs, um especialista em ações de sabotagem da mídia.
Skaggs enviou press releases sobre o suposto evento pelo correio e por fax a mais de 200 meios de comunicação.
A intenção de Skaggs em suas intervenções é mostrar que a mídia é constantemente bombardeada por informações não-verdadeiras de diferentes tipos de fontes.
(MSy)

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