São Paulo, segunda-feira, 10 de fevereiro de 1997
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"Emma" e Paltrow encantam

MARILENE FELINTO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

"A coisa mais linda do mundo é um casal perfeito", essa é a primeira fala de Emma no filme de mesmo nome. E isso é Jane Austen, autora do romance "Emma" (1816), sua obra-prima, em que o filme é baseado. Austen (1775-1817) era mestra da representação das falas reveladoras do caráter do personagem.
No início, é como se não fôssemos nos interessar pela neurastênica e dominadora Emma (Gwyneth Paltrow), uma casamenteira que não faz outra coisa na vida senão tentar acasalar as pessoas, da maneira que lhe parece mais conveniente.
Sob o domínio de Emma vive sua melhor amiga, a insegura Harriet (Toni Collette), cujo primeiro pedido de casamento é destruído por Emma, que, numa demonstração de esnobismo, não aceita que Harriet se case com um modesto camponês.
Outra vítima sua é a solteirona e falante srta. Bates (Sophie Thompson), sobre quem Emma exerce sua cruel sinceridade. O estreante diretor Douglas McGrath acertou em privilegiar e pôr sempre em primeiro plano os personagens mais fortes ou caricatos do romance.
Harriet e a srta. Bates, bem como Mr. Elton (Alan Cumming), o prometido de Emma para Harriet, e Mr. Knightley (Jeremy Northam), o anjo da guarda apaixonado por Emma, formam o quadrado central sobre o qual se estrutura a intriga.
Mas o que há de atraente nessa personagem mentirosa, alcoviteira, esnobe e mimada (a cena do piano é típica de quem quer estar no centro das atenções)?
A surpresa está em ir-se aos poucos percebendo as boas intenções de Emma e suas fraquezas de caráter. Emma fantasia a vida dos outros por uma espécie de cegueira para a sua própria, que acontece embaixo de seu nariz -o amor por Knightley, que ela demora a reconhecer.
Essa é outra das características brilhantes de Jane Austen, a de fazer com que a vida consista em desenvolvimento de caráter -que nos seus livros surgem, como disse um crítico, por meio de erros morais ocasionados pela formação de ilusões privadas, em que falha a auto-realização.
E todos terminaremos o filme encantados com a figura de Emma, especialmente porque a interpretação de Gwyneth Paltrow, com sua figura esguia e angelical, contribui para formar empatia.
Outro mérito do diretor McGrath foi saber manter, por meio da movimentação dos personagens secundários, as tantas pistas falsas do enredo, que dão sabor às histórias de Austen.
Não bastasse isso, a fotografia em tons amarelados consegue reconstituir a atmosfera da pequena nobreza da Inglaterra do século 19, neste que é um dos mais ingleses dos romances ingleses.

Vídeo: Emma
Produção: Inglaterra, 1996, 121 min.
Direção: Douglas McGrath
Com: Gwyneth Paltrow, Toni Collette
Lançamento: Lumière (011/7295-7020)

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