São Paulo, segunda-feira, 10 de fevereiro de 1997
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Bloco 'Esfarrapado' completa 50 anos

ANA CRISTINA PESSINI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O mais tradicional dos blocos carnavalescos da cidade, o "Esfarrapado", do bairro do Bixiga, completa 50 anos de folia.
O desfile, que este ano terá um gostinho especial de comemoração, começa a partir das 14h30 na esquina das ruas Conselheiro Carrão e Luís Barreto.
Ao contrário do que acontece com outros blocos de rua, como o "Pholianafaria", no bairro do Itaim, e o "Gueri Gueri", nos Jardins, para participar do "Esfarrapado" não é preciso comprar nenhum tipo de "mortalha" ou camiseta, bastando vestir a fantasia que a imaginação mandar acompanhando o cortejo com toda a animação.
A diferença dos anos anteriores é que o bloco não pode mais contar com a bateria da escola de samba Vai-Vai, que também nasceu no bairro.
Os fogos de artifício e o trio-elétrico, que distribui melhor e dá mais alcance ao som, estão sendo custeados por meio da arrecadação de donativos num livro de ouro que circula entre os moradoraes do bairro.
Com uma organização "anarquista" (provável influência da tradição italiana do bairro do Bixiga), ou seja, sem uma diretoria formal instituída, o bloco "Esfarrapado" tem como organizadoras Maria Paula Puglisi e Lela Puglisi, respectivamente, filha e viúva de Armando Puglisi, o "Armandinho do Bixiga", além dos amigos do clube Saracura e do Museu Memória do Bixiga.
Foi de uma conversa na porta do antigo Cine Rex, ponto de encontro de jovens, em 1947, que nasceu o "Esfarrapado".
"Eu me vesti de mulher grávida. Começamos a andar batendo lata e em cada casa que a gente parava cantando a gente ganhava vinho e bolo", descreve Armando Puglisi em um trecho de seu livro de Memórias.
Mesmo perdendo um pouco de sua característica inicial, as marchinhas carnavalescas mais tradicionais, como "A Jardineira", "Mamãe Eu Quero" e "Pierrô Apaixonado", continuam dividindo espaço no "Esfarrapado" com os hits que estouram a cada verão.
Fora as músicas externas, o bloco sempre teve seu próprio samba-enredo. O tema mais recorrente é a situação política e econômica do país.
A linha crítica do bloco, no entanto, nem sempre foi bem vista. Durante o regime militar, cada samba-enredo tinha de passar pela aprovação do Dops antes de ir parar na boca do povo.
Hoje, mesmo sem a censura, as "provocações" continuam, mas sem a preocupação anterior de represálias. O objeto da gozação, no entanto, só é conhecidos no dia.
"Nunca se sabe como o pessoal vai aparecer", diz Maria Paula Puglisi.

Evento: desfile comemorativo dos 50 anos do "Bloco Esfarrapado"
Quando: hoje, a partir das 14h30
Onde: o bloco sai da esquina das ruas Conselheiro Carrão e Luís Barreto
Quanto: entrada franca

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