São Paulo, segunda-feira, 10 de fevereiro de 1997
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Crises não afetam AL, diz Fujimori

LUCIA MARTINS
DE LONDRES

As crises políticas no Peru e no Equador são problemas isolados e não vão afetar a imagem da América Latina no exterior.
Essa é a posição que o presidente peruano Alberto Fujimori, 58, pretende defender na Conferência sobre América Latina, que começa hoje em Londres.
"O que precisa ficar claro é a dimensão e a diversidade da América Latina, para que não sobre apenas a imagem negativa", disse ontem Fujimori à Folha.
O presidente enfrenta uma das maiores crises do país por causa da invasão da casa do embaixador japonês em Lima, Morihisa Aoki, pelo Movimento Revolucionário Tupac Amaru (MRTA).
A ação aconteceu no dia 17 de dezembro, durante uma festa. Cerca de 72 pessoas ainda são mantidas como reféns (incluindo Pedro, irmão do presidente). Mesmo assim, Fujimori continua querendo vencer os "delinquentes" pelo cansaço. "Minha posição continua sendo a mesma. Não vou fazer nenhuma concessão. Para evitar novos ataques, tenho de ser firme. Caso contrário, eles vão pensar que, por esse meio, conseguirão o que quiserem."
Em troca dos reféns, o MRTA exige a libertação de dezenas de presos. O presidente disse que a libertação dos reféns agora deverá ser uma questão de tempo.
Em relação à destituição do presidente do Equador, Abdalá Bucaram, Fujimori disse que prefere "não mostrar preferências (por nenhum dos três "presidentes" do Equador)".
Segundo ele, as relações entre os dois países não serão afetadas diretamente pela atual instabilidade política do Equador. "Fizemos acordos sérios nos últimos dois anos, que estão em andamento e devem culminar com uma reunião em Brasília."
Leia a seguir os trechos da entrevista exclusiva que o presidente peruano concedeu à Folha ontem.
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Folha - As crises no Peru e no Equador podem afetar a imagem da América Latina no exterior e assustar os investidores em um momento em que o sr. e o presidente Fernando Henrique vêm a Londres "vender" a América Latina?
Fujimori - É exatamente para isso que estou aqui. Para mostrar que essas crises não espelham toda a América Latina. O que precisa ficar claro é a dimensão e a diversidade da América Latina, para que não sobre apenas a imagem negativa dos problemas.
Folha - Como estão as negociações para a libertação dos reféns?
Fujimori - Como temos dito e como reforçou o sr. Hashimoto (o primeiro-ministro japonês, Ryutaro Hashimoto), mantenho a minha posição de não ceder e não fazer nenhuma concessão.
Folha - As relações do Peru e Japão foram afetadas com o caso?
Fujimori - Acho que não e elas continuam sendo as mesmas. Sem maiores dificuldades. Esperamos que todo esse problema seja resolvido, e acho que nossa posição vai acabar resultando na liberação de todos os reféns.
Folha - Independentemente do desfecho dessa crise, o sr. acha que há riscos de ocorrerem novos ataques como esse no futuro?
Fujimori - É exatamente para evitar novos problemas que temos uma posição firme. Caso contrário, eles vão pensar que, assim, conseguirão o que quiserem.
Folha - Como o Brasil se posicionou nessa crise?
Fujimori - O presidente Fernando Henrique sempre ajudou bastante e deu todo o apoio.
Folha - Qual é sua posição em relação à crise no Equador?
Fujimori - Não devo dar nenhuma opinião que possa ser interpretada como algum tipo de ingerência nos assuntos internos do Equador. Estamos naturalmente preocupados, e essa preocupação é natural porque são vizinhos com os quais temos melhorado muito nossas relações nos últimos anos.
Folha - O sr. conversou com o presidente Bucaram?
Fujimori - Conversei com ele no mesmo dia em que ocorreu a votação. Naturalmente, expressei minha solidariedade.
Folha - Essa crise pode levar a novos problemas entre os países?
Fujimori - Acho que não. Fizemos vários acordos com o Equador, e eles serão confirmados em um encontro em Brasília.
Folha - O sr. preferia que Bucaram continuasse no cargo?
Fujimori - Havíamos começado um processo de negociação muito positivo. E Bucaram foi o primeiro presidente do Equador que visitou o Peru em 175 anos de história. Isso foi um avanço. Essa crise foi realmente uma surpresa...

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