São Paulo, quarta-feira, 12 de fevereiro de 1997 |
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Funk e negro fazem Viradouro favorita LUIZ ANTÔNIO RYFF LUIZ ANTÔNIO RYFF; CRISTINA GRILLO
No início, foi a escuridão. Usando apenas a cor preta -com alguns poucos detalhes em prata- o carnavalesco mostrou o "nada absoluto", o momento antes do "Big-Bang", a explosão que teria dado origem ao universo: os membros da comissão de frente representavam os átomos prontos para a explosão inicial. O carro das Trevas lembrou o melhor momento da carreira do carnavalesco -o enredo da Beija-Flor "Ratos e Urubus, Larguem a Minha Fantasia", de 1989. Todo em negro, o carro trazia reproduções das gárgulas da igreja de Notre-Dame. Sobre o carro, destaques que, em vez de fantasias luxuosas, vestiam trapos. A partir daí, Joãosinho coloriu a avenida em tons de vermelho, dourado, azul e branco. O carnavalesco, que se recupera de uma isquemia cerebral sofrida em 96 e que o deixou com o braço direito paralisado, acompanhou todo o desfile incentivando os sambistas. "Foi um enredo arrojado e que, acho, foi compreendido pelo público", disse Joãosinho ao final do desfile, enquanto a escola era saudada com gritos de "é campeã" vindos das arquibancadas. Além do arrojo visual, a Viradouro foi responsável por uma grande novidade. Sua bateria, em determinados momentos do desfile, ganhava uma batida funk. A novidade foi concebida pelo diretor de bateria Jorge de Oliveira, 45, o mestre Jorjão. "É preciso inovar sempre. A gente mostrou que é possível fazer algo fora da batida tradicional e voltar sem perder o compasso nem atravessar o samba", disse. Admirador do grupo Funk'n'Lata, criado pelo mangueirense Ivo Meirelles, mestre Jorjão se inspirou na batida do funk e na do grupo baiano Olodum. Ele disse que a mudança não foi fácil. "Tivemos que ensaiar muito com a bateria." A inovação foi bem recebida pela platéia, que aplaudia e gritava a cada vez que era executada a mudança de batida em alguma paradinha. Mestre Jorjão reconheceu que sua ousadia foi perigosa, pois pode não agradar aos jurados. "Acho que a mudança foi aprovada. As arquibancadas vibraram. Mas só depois que os envelopes (com as notas) forem abertos é que vamos saber se valeu a pena." O patrono da escola, o bicheiro José Carlos Monassa, esteve na concentração acompanhando os preparativos. Colaborou Cristina Grillo, da Sucursal do Rio Texto Anterior: Correria abre 'buracos' em alas da Portela Próximo Texto: Destaque sai 'pintada de nua' na Beija-Flor Índice |
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