São Paulo, quarta-feira, 12 de fevereiro de 1997
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Ações têm valorização de US$ 69,4 bi

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Fortunas se erguem e se perdem nas Bolsas de Valores. Na média, os acionistas das empresas brasileiras com papéis em Bolsa ficaram nada menos que US$ 69,4 bilhões mais ricos no ano passado.
Essa foi a valorização de mercado das 550 companhias abertas cotadas na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) em 96. A bolada superou em quase US$ 28 bilhões as perdas sofridas pelos investidores com a crise do México, em 95.
E o ritmo ainda é de alta. Neste ano, o Ibovespa, termômetro do mercado paulista, já subiu 18,3% e engordou em vários bilhões o patrimônio dos acionistas em sociedades anônimas. A Bovespa deve divulgar hoje o número oficial.
Se o valor de mercado das empresas tiver acompanhado o IBX, que mede as cem ações mais negociadas na Bovespa, pode-se falar em uma valorização da ordem de US$ 25,8 bilhões em janeiro, para um total de US$ 242,7 bilhões.
Em dezembro de 95, as empresas valiam US$ 147,6 bilhões. Doze meses depois, alcançavam a marca dos R$ 216,9 bilhões, embaladas pela alta consistente da Bolsa após o fim do "efeito tequila".
Antes da crise mexicana, as companhias com ações em Bolsa valiam US$ 190 bilhões.
Dólares
No ano passado, o humor do mercado internacional mudou, os dólares jorraram nas Bolsas brasileiras e quem "segurou a peteca" saiu ganhando. Somente o Ibovespa, índice das 49 ações mais negociadas no mercado paulista, subiu 63,8%, liderando uma valorização real média de 47% de todas as companhias.
A Telebrás, "holding" federal de telecomunicações e vedete do mercado nacional, valia US$ 13,7 bilhões em Bolsa em dezembro de 95. Terminou o ano passado cotada a US$ 25 bilhões. Hoje, a companhia alcança US$ 28 bilhões -484% acima do seu preço de mercado em dezembro de 92.
A festa nos "pregões" (recinto onde as ações são negociadas, aos berros, pelos operadores das corretoras) consolidou o Brasil como o principal mercado acionário da América Latina.
O crescimento do valor de mercado das empresas no país em 96 superou em US$ 20 bilhões o valor atual das 79 companhias negociadas em Bolsa na Argentina (US$ 49,3 bilhões, segundo a consultoria Economática). Chegou a 65% do patrimônio acionário dos investidores em ações mexicanas (US$ 107 bilhões em 78 companhias).
Segunda onda
Quem acha que tais números são grandiosos o suficiente deve se preparar, pois vem mais por aí. É o que diz Luís Eduardo de Assis, diretor do Citibank.
"Estamos no meio de uma segunda onda, a Bolsa ainda tem muito gás e há dinheiro de estrangeiros entrando. Além disso, o mercado acionário brasileiro é pequeno em relação ao potencial econômico do país", diz Assis.
Analisando-se a Bolsa sob essa perspectiva, percebe-se que o Brasil tem mesmo muito o que fazer para fortalecer o mercado de ações, inibido no passado pela explosão inflacionária e pelos juros estratosféricos.
Segundo um relatório do Morgan Stanley no final de janeiro, o valor de mercado das empresas acompanhadas pela instituição no país (US$ 210,9 bilhões) representava 30,7% do PIB (soma de produtos e serviços) nacional.
É um mercado proporcionalmente menor que o do México, com 40,5% (US$ 113,5 bilhões) do PIB. Em relação ao Chile, a distância é ainda maior: 90,9%.(US$ 61,2 bilhões). A média na América Latina é de 38,4%.
Emissões
"O que tivemos até agora foi valorização de empresas cotadas muito abaixo de seu valor patrimonial. Ainda há muitas companhias com baixas cotações, o que inibe um novo ciclo de emissões de ações", completa Alfredo Rizkallah, presidente da Bovespa.
Os juros altos do Plano Real também inibem novas chamadas de capital nas Bolsas, pois desviam a maior parte da poupança interna do país para os papéis de renda fixa, como os títulos do governo e dos bancos.

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