São Paulo, quarta-feira, 12 de fevereiro de 1997
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Argentina quer barrar remédios do Brasil

RODRIGO BERTOLOTTO
DE BUENOS AIRES

A indústria farmacêutica da Argentina está em pé-de-guerra com sua similar vizinha e quer que seu governo crie barreiras para a entrada de produtos brasileiros.
"Os laboratórios brasileiros fizeram suas inscrições na Argentina e estão próximos a exportar. O caminho contrário não existe", afirma Pablo Challú, diretor-executivo da Cilfa (Centro Industrial de Laboratórios Farmacêuticos Argentinos).
Os brasileiros respondem à acusação. "Estamos contra a tentativa da indústria argentina de considerar uma proteção ao consumidor como uma barreira alfandegária", afirma José Eduardo Bandeira de Mello, presidente de Abifarma (que reúne a indústria farmacêutica nacional).
Na verdade, o Brasil não quer que remédios argentinos, mais recentes pela rapidez dos trâmites de registro, entrem no mercado até que seu conteúdo seja aprovado pelo Ministério da Saúde.
"Há casos em que o Brasil demora cinco anos para registrar um medicamento. Nós queremos concorrer nesse mercado", afirma o argentino Challú.
O mercado argentino de produtos farmacêuticos movimenta US$ 3,6 bilhões por ano -pouco menos da metade do brasileiro (US$ 7,5 bilhões). A participação das multinacionais é de 44% do setor (contra 85% no Brasil).
As indústrias farmacêuticas do país vizinho já apresentaram a situação para a Chancelaria, o Itamaraty da Argentina.
Segundo o acordo de união alfandegária do Mercosul, seriam abreviados os processos de registros de drogas comercializadas entre seus quatro sócios (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai).
A diferença é que o Brasil não regulamentou internamente isso, enquanto os outros três o fizeram. "Queremos uma resposta a curto prazo do Brasil. No mais tardar em maio ou junho", diz Challú.
A Argentina, por exemplo, tem um sistema mais simples para a autorização de produtos, que foi estabelecido por dois decretos.
"Não aceitamos a posição argentina. Um medicamento aprovado nos EUA, Inglaterra ou Alemanha não pode ser automaticamente aceito por outros países, como faz a Argentina", diz Bandeira.
Ele afirma que os produtos argentinos têm de esperar a aprovação do Ministério da Saúde.
Para Francisco Teixeira, da Interfarma (Associação das Indústrias Farmacêuticas de Pesquisa), os medicamentos argentinos não vingariam no Brasil. "Os preços são, em média, o dobro."

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