São Paulo, quarta-feira, 12 de fevereiro de 1997
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Israel solta brasileira após 10 anos

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A TEL AVIV

A brasileira Lamia Maruf Hassan, 32, deixou ontem a prisão em Israel após mais de dez anos detida. Ela foi a primeira presa libertada na atual fase das negociações.
Lamia, condenada a prisão perpétua pelo envolvimento na morte de um soldado (leia texto abaixo), foi deportada de Israel e já está voltando para o Brasil.
A expulsão revoltou os membros da Autoridade Palestina, que consideraram que a decisão contraria os acordos de paz.
"Segundo um dos itens do acordo, as 31 prisioneiras políticas palestinas, Lamia inclusive, seriam libertadas igualmente", disse à Folha Ahmad Sobeh, diretor-geral do Ministério de Planejamento e Cooperação Internacional da Autoridade Palestina.
Se não tivesse sido expulsa, Lamia deveria ter se encontrado com o líder palestino, Iasser Arafat, junto com as outras libertadas, em Ramallah, na Cisjordânia, e ter visitado seu marido.
"Até a meia-noite de anteontem, nossos negociadores estavam com as autoridades israelenses ultimando os detalhes da saída das prisioneiras, e Lamia estava na lista", disse Sobeh, que foi representante da ANP no Brasil entre 1989 e 1995. "Por um lado estamos felizes com a saída de Lamia da prisão; por outro, tivemos de aceitar uma liberdade pela metade."
Lamia Maruf soube da decisão do governo israelense às 12h (9h em Brasília) de ontem, por seu advogado, o brasileiro Airton Soares, e por um funcionário da embaixada brasileira.
A Folha apurou que, a princípio, Lamia não aceitou a deportação e decidiu recorrer. Ela temia não poder voltar a Israel, onde seu marido está preso pelo mesmo crime e onde vive parte de sua família.
Às 14h, depois de falar com o marido por telefone, porém, resolveu não apelar à Justiça.
Achou que a medida pudesse prejudicar as outras prisioneiras, que prometeram renunciar à liberdade caso Lamia ficasse na prisão.
Meir Indor, presidente da Associação das Vítimas do Terror Árabe, disse ao jornal "The Jerusalem Post" que a saída das palestinas da prisão "nos deixa desapontados, para dizer o mínimo".
Até as 19h de ontem, o embaixador do Brasil em Israel, Pedro Paulo Assumpção, não havia se pronunciado oficialmente.
"Dos males o menor", disse um dos irmão de Lamia, o engenheiro civil Taiser Maruf Abdalla, 42. Abdalla foi a Israel para preparar a festa da libertação da irmã e voltar com ela para o Brasil.
"Encostaram a gente na parede", disse Abdalla. "Sabiam que ela não recorreria da expulsão."
Lamia saiu da prisão, que fica na cidade de Tel Mond (centro de Israel), direto para o aeroporto internacional de Tel Aviv. Deve desembarcar no aeroporto de Guarulhos às 9h de amanhã, após conexão em Londres.

LEIA EDITORIAL sobre a libertação de Lamia Maruf Hassan à pág. 1-2

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