São Paulo, sábado, 22 de fevereiro de 1997
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A Justiça dos homens

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE

Assunto da semana, o julgamento de Senna já deu sinais de que será uma longa e lacrimosa novela, daquelas que você torce para acabar.
E, novamente, está fértil o campo das teorias estapafúrdias, dos tais novos elementos que podem alterar o destino dos réus, o blablablá de sempre.
Haja criatividade. A papagaiada de ele ter desmaiado após prender a respiração para poupar os músculos é sensacional.
Esse julgamento, como muitos outros, é uma grande perda de tempo.
Serve para ocupar espaço na mídia.
É um caso Simpson, apesar de a palhaçada norte-americana ter batido todos os recordes.
Não foi para a cadeia porque é negro.
Vai pagar indenização porque é rico. Isso, dizem, é democracia.
Mas isso não é nada democrático. É uma tremenda falta de bom senso.
Sinal de que continuamos imbecis, primatas jogando pedras no grupo rival. E de que só podemos esperar pelo pior. Pelo menos até as pessoas pararem e começarem a pensar no que estão fazendo.
Obviamente, não adianta esperar por esse dia. Mas, às vezes, é possível escapar, não se envolver nesse mar de lama.
Corrida de automóveis, se pensada racionalmente, é uma grande estupidez. Mas isso só lembramos quando alguém se espatifa no muro. E tem que ser alguém importante.
Faça um teste: pergunte ao sujeito do seu lado qual é o nome do piloto que morreu no ano passado na Indy?
Não está se discutindo quem matou Senna. Em Bolonha, a briga é para ver quem vai levar na cabeça. A F-1 matou Senna. Ele se matou, ao sentar no carro. A idolatria o matou. Não há Justiça para isso.

O jornalista José Henrique Mariante está na Alemanha como bolsista do IJP (Internationale Journalisten-Programme)

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