São Paulo, sábado, 22 de fevereiro de 1997
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Franceses fazem ato contra lei de imigração

BETINA BERNARDES
DE PARIS

Paris se prepara hoje para abrigar aquela que pode ser a maior manifestação desde as realizadas no movimento social de novembro e dezembro de 1995.
Os organizadores do protesto contra o projeto de lei sobre imigração esperam a presença de 100 mil pessoas. A polícia trabalha com o número de 20 mil.
A passeata partirá às 15h (11h de Brasília) da Gare de l'Est para a prefeitura de polícia, e os manifestantes são chamados a ir com uma mala ou bolsa de viagem, "para lembrar a situação do imigrante".
O percurso é uma alusão ao governo de Vichy, instalado pelos nazistas na França durante a Segunda Guerra. Judeus eram deportados a partir da Gare de l'Est.
O movimento contra o projeto de lei sobre imigração, chamado Lei Debré, por ter sido idealizado pelo ministro do Interior, Jean-Louis Debré, começou com um apelo à desobediência feito por 59 cineastas na semana passada.
A petição classificava as leis sobre imigração de "desumanas" e pedia a desobediência dos cidadãos que discordassem da forma como os imigrantes são tratados.
Rapidamente, escritores, atores, psicanalistas, professores, advogados, jornalistas, criadores de moda como Christian Lacroix e Azzedine Alaia, cabeleireiros, garagistas e outras categorias profissionais de toda a França fizeram petições.
Elas continuam a circular e somam dezenas de milhares de assinaturas, numa ação classificada pela revista "Le Nouvel Observateur" de "Maio-68 peticionário".
Dizer basta
"Para nós foi uma grande surpresa. Não somos profissionais da política e não esperávamos tudo isso. É formidável ver que pessoas de todos os lugares do país sentiram a necessidade individual de dizer basta e de tomar uma posição", disse à Folha a cineasta Tonie Marshal (dos filmes "Pas Très Catholique" e "Enfants de Salaud"), que estava no primeiro grupo a assinar a petição.
A repercussão das petições, que afirmam haver um princípio de delação no projeto, obrigou a maioria governamental a mudar o artigo que trata da comunicação de chegada e partida de estrangeiros por parte de seu anfitrião francês (leia texto nesta página).
Em entrevista ao jornal "Le Monde", a atriz Isabelle Adjani diz que "é junto que devemos matar a serpente dentro do ovo. O projeto de lei é bem o ovo da serpente".
Todos juntos
O Parlamento Europeu, por uma diferença de cinco votos (106 contra 101), convidou o governo francês a "retirar o projeto de lei".
Uma pesquisa de opinião feita pelo instituto Ifop para o jornal "Libération" mostra que 59% dos franceses aprovam o artigo em sua forma original e 48% são favoráveis ao movimento iniciado por artistas e intelectuais.
Iniciado, mas logo recuperado por sindicatos e partidos políticos, que prometem estar presentes na manifestação de hoje.
O Partido Socialista, se não contará com a presença de seu primeiro-secretário, Lionel Jospin, convocou seus militantes a participar do protesto, que terá como mote as palavras de ordem "todos juntos contra a Lei Debré".
O Partido Comunista participará e contará com seu secretário-nacional, Robert Hue.
A adesão, entretanto, não é total. A esquerda considera que o discurso sobre imigração não tem tanta penetração no eleitorado quanto as questões relacionadas ao desemprego e insegurança.

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