São Paulo, terça-feira, 25 de fevereiro de 1997 |
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Mulher comanda na falida Paraíba
MÁRIO MAGALHÃES
Na sala seguinte, onde a folhinha também está na parede, despacha a responsável pela encomenda de milhares delas para distribuição gratuita em todo o Estado, com o seu próprio retrato: Rosilene de Araújo Gomes, única mulher a presidir uma federação estadual no Brasil. Aos 49 anos, ela comanda a entidade há oito, com pulso de ferro. Já foi reeleita duas vezes e fica, pelo menos, até 1999. Na sua primeira eleição, em 1989, obteve 51 dos 54 votos e se envolveu numa briga que a deixou vários dias no hospital com hematomas no corpo. "Eu só fazia levar", lembra. Um adversário também foi internado. Entre seus agressores, o ferido apontou filhos de Rosilene. Ela se casou aos 14 anos e teve cinco filhos. Batizou um como Douglas (por causa do ator Kirk Douglas), outro como Tyrone (homenagem ao astro hollywoodiano Tyrone Power). Já é avó de dez crianças. Satisfazendo o ego Milionária, possui com o marido, o procurador do Estado Juracy Pedro Gomes, fazendas, fábricas (uma de material esportivo) e lojas (pelo menos uma de esportes). Questionada sobre o que a atrai numa federação pobre, num Estado de futebol paupérrimo e no conflito permanente com clubes, Rosilene responde: "Sou formada em psicologia e filosofia. Sei que estou aqui para satisfazer o ego." Sua carreira esportiva começou cedo, muito cedo. Em 1962, quando se casou, o marido presidia o Auto Esporte e ela o acompanhava em jogos pelo interior. Dois anos depois, quando Juracy Gomes deixou a equipe da capital paraibana, foi convidado para dirigir o ABC, um clube amador. Como não quis, ela aceitou a presidência, aos 16 anos. Em 1965, trocou o ABC pelo Filipéia e, em 1968, foi presidir o Atlético. "Tenho amor ao esporte, não à cor da camisa. Não torço por clube algum. Já viu uma administradora dessas?" Em 1970, ganhou o título de madrinha do esporte amador, se afastou do futebol e, durante dez anos, dedicou-se exclusivamente aos negócios da família. Em 1980, o marido sucedeu o dirigente que dominava a federação havia 25 anos e inaugurou uma nova dinastia esportiva na Paraíba. Ficou até 1986, quando deu lugar a um presidente indicado por um político local e, três anos mais tarde, patrocinou a candidatura de sua mulher. Rosilene afirma que não queria dirigir a entidade. "Mas ouvi meu rival dizendo que se eu concorresse não seria páreo duro e que lugar de mulher é em casa, lavando prato. Então, resolvi vencer." Sem baixaria Na primeira reunião com clubes, ela estabeleceu uma nova norma: proibiu palavrões. "Um presidente de clube quis falar mais alto. Bati na mesma, exigi respeito e os palavrões acabaram. Era impossível uma mulher participar da federação. Hoje, quem tiver que dizê-los, que o faça em casa ou na esquina." Ao conversar por telefone com o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira, ouviu sugestão para entregar uma procuração ao marido, que a representaria num encontro. "E ele é o presidente?", perguntou, irritada, a Teixeira. Uma vantagem do modo feminino de administrar, na opinião de Rosilene, é o constrangimento para lhe fazerem propostas escusas. "Aqui não podem me chamar num cantinho para tramar coisas desonestas. Pegaria mal." Vaidosa (vai duas vezes por semana ao cabeleireiro) e cuidadosa com o corpo (caminha, faz ginástica e recebe massagem todos os dias), ela odeia novelas. O telão de 65 polegadas no seu quarto tem outro objetivo. "É para ver melhor o futebol, claro." Índice |
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