São Paulo, terça-feira, 25 de fevereiro de 1997
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Tuberculose atinge 85% dos presos de SP

ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Pelo menos 85% dos homens e 67% das mulheres presas no Estado de São Paulo devem possuir o bacilo causador da tuberculose.
Esses dados constam do relatório da CPI da Assembléia Legislativa sobre os estabelecimentos penitenciários do Estado de São Paulo.
A pesquisa sobre tuberculose entre os presos foi encomendada pelo Departamento de Saúde do Sistema Penitenciário de São Paulo ao Núcleo de Informática sobre Aids da Universidade de São Paulo, em 1995.
"Os números são preocupantes e revelam a necessidade urgente de combate à doença nos presídios", disse o relator da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia, deputado Wagner Lino (PT).
Segundo ele, os dados sobre a tuberculose entre os presos foram passados ao vice-cônsul dos Estados Unidos em São Paulo, Gregory Thome, que deverá encaminhá-los ao Departamento de Estado do governo norte-americano, que divulga todos os anos a situação dos direitos civis em vários países. "Esse é um exemplo de descuido por parte do Estado", disse Lino.
O bacilo (bactéria) causador da tuberculose é transmitido pelo ar. "As cadeias funcionam como um incubador do bacilo. Não possuem ventilação, são frias e superlotadas", afirmou o deputado.
O relatório aponta a tuberculose como um problema de saúde pública mais difícil de ser controlado dentro das prisões do que a Aids. Enquanto a Aids atinge cerca de 16% dos homens presos e 20% das mulheres, a tuberculose atinge mais de 80% da população masculina.
Além disso, os métodos de prevenção da Aids são exaustivamente comunicados dentro das prisões. No caso da tuberculose, a única alternativa de prevenção é retirar o preso que apresenta os sintomas da doença, o que nem sempre acontece no sistema penitenciário superlotado do Estado.
"Vamos instaurar uma subcomissão permanente para os assuntos prisionais para podermos acompanhar de perto os problemas de saúde do sistema penitenciário do Estado", afirmou Lino.
"O sério risco que a tuberculose apresenta nas prisões reside no fato de que um total de 10% dos presos que têm o bacilo podem desenvolver a doença, seja dentro das prisões ou depois na vida civil, com perigo de contagiar outras pessoas", diz o relatório.
Segundo a comissão, seriam necessários 2.300 leitos para atender os presos que possivelmente manifestem a tuberculose.
Os deputados receberam, na semana passada, sugestão do ex-coordenador do Departamento de Saúde do Sistema Penitenciário de São Paulo Manoel Schechtmann, que dirigiu a instituição por oito anos, de instalar um cama para cada grupo de 50 presos, dentro das penitenciárias, para atender os casos de tuberculose. Os doentes de tuberculose necessitam de um período de isolamento, onde devem ficar em lugar arejado e limpo.

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