São Paulo, terça-feira, 25 de fevereiro de 1997
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Ronaldo Fraga

NIZAN GUANAES

Numa dessas noites do Phytoervas Fashion Awards (grande evento), tive a oportunidade de assistir ao divertidíssimo desfile do estilista Ronaldo Fraga. Bárbaro. Qualquer um que assistiu vai se lembrar dele. Alto "recall". Mas não tem nenhum compromisso com mercado, com vender. Puro entretenimento. As pessoas vão continuar comprando e ambicionando a G, Reinaldo Lourenço, Forum e tendo "recall" de Ronaldo Fraga.
Não pude deixar de traçar um paralelo entre esse tipo de "moda" e um certo tipo de "propaganda" que vem sendo praticado. Nenhuma preocupação com o "target", com vender, com construir marca. Só "fraguismos".
Não que eu defenda uma propaganda burra, insossa. Não. Defendo propaganda memorável, quente, pertinente, inteligente. Mas sempre comprometida com o produto que essa indústria vende: resultados. Como faz Reinaldo Lourenço, Glória Coelho e outros. Que criam coisas inteligentes, inusitadas, mas procedentes. Não vai nisso nenhuma crítica a Ronaldo Fraga. Em absoluto. O experimentalismo, a vanguarda, o exercício da imaginação são fundamentais para o avanço de muitas coisas.
Inclusive para o avanço da propaganda. Que também deve ir beber da sua fonte de fina ironia. Mas o nosso trabalho não é o dele.
A verdadeira publicidade "faz vestidos" para que as pessoas comprem, para que as pessoas desejem. Ela não pode apenas gerar comentários, "recall" e ponto. Tem que construir marcas e vender produtos.
Lamentavelmente, existe hoje o "sucesso virtual". Anúncios que ficam famosos apenas no meio publicitário e que são julgados por critérios que ignoram se determinada peça persuade, encanta, se o título é compreensível, crível, legível.
Nesse sentido, a propaganda andou para trás. Mestres como Arapuã, Silvio Lima, Roberto Duailibi, Jarbas de Souza, Enio Mainardi, Washington Olivetto, Murilo Felisberto, Julio Ribeiro, Alex Periscinoto sempre se preocuparam, sobretudo, em vender.
Criaram bordões, personagens, tipos inesquecíveis e, sobretudo, conceitos. Grandes conceitos. E, com isso, campanhas espetaculares, com estrondoso sucesso de público. Campanhas que mexiam e mexem com a nação. Propaganda é isso. Bombril, Brastemp, Parmalat, Boko Moko, Tostines.
O rolo de uma agência tem que estar na cabeça da vizinha, do cunhado, do motorista de táxi. Tem que ser conversa de boteco, de aniversário. Tem que ser repetido pelas crianças. Essa é a maravilhosa profissão que abracei. Uma profissão que gera empregos, conquista mercado, forma opinião e cria marcas milionárias. Que Ronaldo Fraga siga seu divertido caminho e que o espírito de Senor Abravanel baixe em todos nós, publicitários.

A coluna "Criação & Consumo" é publicada às segundas-feiras no caderno "Negócios". Ontem, excepcionalmente, deixou de sair por problemas da Redação.

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