São Paulo, terça-feira, 25 de fevereiro de 1997 |
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Técnica da ovelha pode duplicar homens
VINICIUS TORRES FREIRE
A partir de quinta-feira, quando o experimento de Ian Wilmut e equipe, do Instituto Roslin e da empresa PPL Therapeutics, da Escócia, for publicado na revista "Nature", os conhecimentos para a clonagem (duplicação) de mamíferos adultos estarão à mão de cientistas do mundo inteiro. Ron James, diretor-executivo da PPL, disse que a técnica básica de clonagem pode ser utilizada em humanos, com alguns poréns. "A técnica básica de transferência de núcleos de uma célula adulta para uma célula sexual é conhecida, e sabemos agora que provavelmente qualquer célula de um organismo adulto pode ser utilizada para a recuperação do patrimônio genético para fins de clonagem", disse James. James observa no entanto que "existem problemas diferentes para cada espécie animal". "Como não trabalhamos, não pretendemos, nem podemos fazê-lo com humanos, não sabemos quais seriam os problemas técnicos a serem enfrentados." O que Wilmut fez em seu laboratório foi inventar um modo de reprodução sem sexo para os mamíferos. Na reprodução pela via sexual, o núcleo de uma célula sexual feminina, o óvulo, é fundido com o núcleo de uma célula sexual masculina, o espermatozóide. O núcleo dessa nova célula contém o material genético do novo indivíduo, o DNA. O DNA é uma cadeia bioquímica com as instruções para a construção e o funcionamento normal de um novo indivíduo, "mistura" da mãe com o pai. Essa célula-mãe se divide muitas vezes, dando origem às células especializadas, diferenciadas, que compõem as partes do organismo: músculos, nervos etc. Wilmut inventou um atalho para o caminho sexual. De uma ovelha, ele retirou células chamadas oócitos (células que se desenvolvem em óvulos). Desses oócitos, ele retirou o material genético -extraiu o núcleo delas, o seu "miolo" hereditário. Guardou só a "casca" da célula. No passo seguinte da receita, ele juntou os dois ingredientes: inseriu o núcleo da célula de uma ovelha na "casca" do oócito e o colocou para "funcionar". Essa nova célula, remontada, começou a se dividir como se fosse a reunião de duas células sexuais. Mas, nesse caso, não havia célula do pai. As novas ovelhas seriam idênticas à mãe: só herdaram material genético dela. A grande novidade do trabalho de Wilmut foi demonstrar que mesmo o DNA de uma célula especializada, das glândulas mamárias, ainda poderia ser utilizado para fazer um organismo inteiro. É como se a célula mamária guardasse a "memória" da célula que a originou (resultado da fusão das células sexuais da fêmea e do macho). O grande problema técnico resolvido pelos escoceses foi como "encaixar" o núcleo de uma célula em outra, "desnucleada". Essas células têm ciclos de vida diferentes e os "ponteiros" de seu relógio precisam ser acertados para que não seja gerado um animal anormal ou que não se desenvolva. LEIA EDITORIAL sobre a criação de clones à pág. 1-2 Texto Anterior: Polícia nega terror no Empire State Próximo Texto: Bioética deve ser debatida Índice |
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