São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 1997
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Mergulho na praia mata 3 jovens no Rio

CRISTINA RIGITANO
RONI LIMA

CRISTINA RIGITANO; RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Maré sobe e encobre as pedras, enganando os banhistas que pulam do calçadão ao mar no Arpoador

Uma nova mania está pondo em risco a vida de jovens e adolescentes na praia do Arpoador (zona sul do Rio). Só este mês, três rapazes morreram ao "descerem na pororoca" -como foi batizado o mergulho de cabeça praticado do calçadão ao mar.
Como a faixa de areia do Arpoador diminuiu, nos dias de maré alta, o mar invade a praia. Os jovens esperam a onda bater no calçadão e pulam. Com o movimento da maré, eles se arriscam a bater a cabeça nas pedras ou no que restou da areia do Arpoador. Alguns saem feridos, e três já morreram.
"'Descer na pororoca' é o maior barato. Não tenho medo. Os playboys que morreram não sabiam pular. Não é o meu caso", afirmou o estudante Reinaldo Barbosa, 18.
Segundo o salva-vidas Joel Benvindo, 30, nos fins-de-semana cerca de 50 pessoas ficam enfileiradas no calçadão, esperando o momento ideal para pular. "Não adianta dizer para não pular. Quando viro, o sujeito pula", disse Benvindo.
No último dia 20, o estudante Flávio Bohrer, 16, morreu, após ficar internado em uma clínica por 12 dias. Ele deu o mergulho fatal no sábado de Carnaval, dia 8.
No mesmo dia, horas antes, morreu um outro jovem, identificado como Flávio. Uma semana depois, morreria um terceiro rapaz, não identificado, de 18 anos.
Tetraplégico
Flávio Bohrer quebrou a quinta vértebra da coluna e foi operado pelo ortopedista Nova Monteiro. A operação correu bem, seu estado era bom. Mas, devido a um estresse pós-operatório, ele teve hemorragia interna, causada por uma úlcera estomacal, e morreu.
"Mesmo que ele sobrevivesse, nunca mais poderia andar. Ia ficar paralítico do pescoço para baixo. Isso sempre acontece. Quando não morrem, ficam com sequelas graves", disse o ortopedista.
O salva-vidas Benvindo disse que avisou o estudante sobre o perigo: "Primeiro ele mergulhou de barriga. Quando voltou, eu falei para não pular".
Segundo Benvindo, Bohrer fez pouco-caso da orientação e pulou de novo, só que de cabeça. Ele demorou a vir à tona. "De repente, botou a cabeça para fora, tentando respirar. Vi que era grave", disse Benvindo.
O salva-vidas contou que o tirou da água lúcido. "Mandei ele mexer a perna: não mexeu. Mandei mexer o braço: não mexeu. Belisquei a perna e ele não sentiu nada. O médico da ambulância deu agulhadas na perna e nada. O rapaz ficou desesperado. Foi para o hospital chorando. Ele dizia 'Por que fui pular?"', disse Benvindo.
A mãe, Gilda de Oliveira Bohrer, nega que o salva-vidas tenha orientado e tirado o filho da água.
Segundo Benvindo, que trabalha no Arpoador há sete anos, todo fim-de-semana, quatro ou cinco jovens se acidentam, por dia. Eles são levados para o hospital Miguel Couto (Gávea, zona sul).
"Sábado, uma menina mergulhou, bateu na pedra e se ralou toda. Um rapaz quebrou o pé e um outro, a clavícula".
Após as três mortes, o subprefeito da região do Arpoador, Milton Rezende, mandou fazer duas placas com o aviso "Perigo de vida. Não se aproxime da murada".

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