São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 1997 |
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Lúcio Costa, 95, aposta no século 21
FERNANDO PAULINO NETO
Para um dos criadores de Brasília, a contribuição norte-americana para a humanidade termina com a virada do século. Segundo Costa, o próximo século será um "século mundial". Vai prevalecer, em seu modo de entender, "o somatório das peculiaridades de cada país e o Brasil terá grande contribuição a dar". "Nós não somos americanos nem europeus, somos um país de grandes peculiaridades, o que vai pesar muito no futuro século." E, com um fino bom humor, afirma que não poderá constatar a concretização de seu otimismo: "Eu já vou ter embarcado". Ele disse que o maior mérito de Brasília, cidade que concebeu, é "o fato de ela estar lá" e "a única coisa ruim é não estar perto" do Rio de Janeiro. * Folha - O sr. considera o século 20 o seu século, por tê-lo vivido praticamente todo. Qual a grande característica desses cem anos? Lúcio Costa - Este foi o século americano e a grande contribuição foi que o século americano trouxe os arranha-céus, uma mudança fundamental na nova era que estamos vivendo. Folha - Qual será a característica do novo século? Costa - Será o século da contribuição de outros países. Será um século inspirador, porque será um século de contribuições das peculiaridades de cada país. Folha - E o que é essa nova era? Costa - Até o século 18, a força do homem é que dominava; no 19, foi a máquina. Agora, a inteligência tem que tomar o comando. O futuro só pode ser a favor do homem, essa fatalidade da natureza. Folha - Por que fatalidade da natureza? Costa -Industrialmente falando, o símio e o homem são de linhas de montagem diferentes. Não sou religioso. Sei, evidentemente, que não existe Deus. Portanto, a existência do homem é uma fatalidade da natureza. Folha - O sr. costuma dizer que, por ter morado fora do país, é mais brasileiro que muitos brasileiros. Como vê o Brasil de hoje? Costa - Por ter vivido no exterior, não tenho a balda (vício) do regionalismo. Hoje, parece que tudo é trágico. Temos um presidente meio vaidoso, mas pelo menos ele é uma boa figura. Folha - Como o sr. vê Brasília, 37 anos depois de sua fundação? Costa - Você já esteve em Brasília? Saiu correndo de lá, né? Existe uma espécie de campanha contra a cidade. Hoje em dia, é muito difícil para um urbanista ter a oportunidade de fazer uma cidade. Texto Anterior: Pedestre diz que floreira fecha calçada Próximo Texto: Livro terá nova edição Índice |
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