São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 1997
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O homem que inventou Brasília

CIRO PIRONDI

Lúcio Costa é Brunelleschi na arquitetura brasileira.
Arquiteto italiano do século 14, que realiza a passagem da arquitetura clássica para a arquitetura moderna renascentista, Brunelleschi solidificou uma forma de pensamento sobre a arquitetura baseada nos conhecimentos da moderna tecnologia do desenho e da construção.
Lúcio Costa, profundo conhecedor de nossas tradições, associa seus conhecimentos à nova arquitetura nascente do século 20, fazendo a transição da chamada arquitetura colonial brasileira para a arquitetura moderna. Realiza, assim, a tarefa mais difícil para um artista: transformar um conhecimento local em um saber universal, sem perder a sua identidade.
Noventa e cinco anos neste dia 27 de fevereiro. Não é somente para ser lembrado como o aniversário do homem que inventou Brasília, mas como o de um dos responsáveis pela construção da noção de modernidade em nosso país.
Ler seu livro, só recentemente lançado, nos dá a visão de um humanista, preocupado não somente com seu trabalho, mas com as razões, tão inexplicáveis, da existência humana. A arquitetura foi uma das formas que encontrou para discursar sobre isso.
Darcy Ribeiro e Antônio Carlos Jobim o admiravam. Entre os arquitetos brasileiros, é tido como mestre. Carlos Drummond de Andrade se referia a ele como um sábio.
Inquieta-me perceber o silêncio que se faz em torno deste dia 27 de fevereiro, não só no meio dos arquitetos, mas na mídia em geral. Por isso, aceitei gentil convite para escrever este breve texto. Breve e conciso, como sei que o Lúcio aprecia.
Em uma entrevista, disse que esperava dos anos 90 a retomada da beleza e da tradição em nossas manifestações arquitetônicas e culturais.
Avesso a homenagens, peço licença ao arquiteto para propor uma ao sr. presidente Fernando Henrique Cardoso: restaurar e fazer voltar à vida a Casa do Brasil na Universidade de Paris, projeto dele e de le Corbusier, hoje abandonada, em estado de deterioração e prestes a ser tombada pelo governo francês.
Aos 95 anos, essa talvez fosse uma forma concreta de reconhecer que sua obra está imersa em nossa história, num senso de tradição e modernidade, com absoluto sentido de beleza.

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