São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 1997
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Papéis de SC detonam crise interna na CPI

FERNANDO GODINHO
DANIEL BRAMATTI

FERNANDO GODINHO; DANIEL BRAMATTI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

BC proíbe negócios com terceiros dos títulos em poder dos fundos estaduais de liquidez

A CPI dos Precatórios enfrentou ontem sua primeira crise interna.
Após uma reunião secreta da CPI ocorrida à tarde, o senador Esperidião Amin (PPB-SC) disse que estava ocorrendo "um grande esforço para salvar os sustentáculos da cadeia de felicidade" envolvendo os títulos de Santa Catarina -que estão sendo investigados pela CPI.
A crise na CPI foi gerada por uma dupla interpretação dos senadores a respeito da decisão de suspender a comercialização dos títulos emitidos para pagar precatórios, determinada ontem pelo BC.
O governador de Santa Catarina, Paulo Afonso (PMDB), enviou uma carta à comissão informando que a determinação do BC impede o Estado de financiar diariamente a compra dos títulos catarinenses pelo Banco Porto Seguro e pelas corretoras Cedro e Trade.
Segundo a carta, o fim dessas operações iria provocar "a liquidação de várias instituições por insolvência, colocando em risco todo o sistema financeiro nacional".
A reunião secreta discutiu a carta do governador. Os senadores Vilson Kleinubing (PFL-SC) -autor do requerimento que determinou a suspensão das operações- e Jader Barbalho (PMDB-PA) defenderam que os financiamentos diários poderiam continuar.
Segundo eles, o que estava proibido era o Estado encontrar um comprador final para seus títulos no mercado, deixando de refinanciá-los diariamente.
Os senadores Amin e Roberto Requião (PMDB-PR) tinham outra interpretação. Para eles, qualquer tipo de operação deveria ser suspensa. Os dois senadores disseram que o governador catarinense e os senadores Kleinubing e Barbalho estão tentando salvar as corretoras de uma eventual quebra.
"O governador de Santa Catarina pediu uma sessão secreta para salvar os sócios da roubalheira que ele provocou. Seu pedido foi encaminhado à CPI na madrugada de hoje (ontem)", disse Amin, irritado, ao sair da reunião.
"Existem pressões externas querendo salvar as corretoras e o banco, que participaram do esquema desde o início. Se eles tiverem que quebrar, que quebrem", afirmou Requião.
O senador Romeu Tuma (PFL-SP) solicitou uma auditoria do BC nas instituições financeiras que estão operando com os títulos de Santa Catarina.
Os senadores convocaram dois técnicos do BC para que eles dessem uma forma definitiva à determinação da CPI. Segundo a Folha apurou, o BC foi criticado por ter apenas repassado a orientação da comissão ao mercado, sem explicá-la tecnicamente a operadores de bancos e corretoras.
Segundo o senador José Serra (PSDB-SP), o BC vai confirmar a interpretação dos senadores Vilson Kleinubing e Jader Barbalho, autorizando que Santa Catarina continue financiando diariamente seus títulos no mercado.
Essa decisão desagrada o senador Roberto Requião, relator da CPI. "Espero que a CPI não rache e não amarele. Nós não abriremos mão da resolução."
"Não é hora de atenuar nada. O momento é de pôr ladrão na cadeia e quebrar corretoras que roubaram dinheiro", completou o relator.
Kleinubing disse que a proibição generalizada das operações deve ser determinada por uma nova votação da CPI -o que não aconteceu na sessão secreta de ontem.

Leia EDITORIAL sobre as investigações da CPI à pág. 1-2

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