São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 1997
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SÍLVIO LANCELLOTTI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Tudo bem, o Brasil é um país ainda pobre, repleto de desajustes e de desequilíbrios. No entanto, mesmo em relação aos números formidáveis dos EUA e da Europa, são insignificantes, para não dizer ridículos, os valores que aqui se paga pelo futebol na TV.
Fala-se num pacote de US$ 25 milhões para o próximo campeonato nacional. Pois compare o leitor esse montante com os dados que seguem.
1. O futebol americano custa, ao ano, cerca de US$ 2 bilhões. Sem contar os playoffs, cada um de seus 30 times arrecada US$ 30 milhões.
2. O basquete nos EUA custa, ao ano, cerca de US$ 500 milhões. Sem os playoffs, cada um de seus 29 times arrecada US$ 16 milhões.
3. Pelo Campeonato Alemão desta temporada, a rede Sat-1, de Leo Kirch, pagou US$ 90 milhões, uma jogo por semana. Pelo francês, o Canal Plus, de Michel Denisot, um jogo na sexta, outro no sábado, teipes, compactos e melhores lances no domingo, pagou outros US$ 90 milhões.
4. Na Inglaterra, o magnata australiano Rupert Murdoch, dono do jornal "The Times" e da rede BSkyB, queimou cerca de US$ 200 milhões pelos direitos de cobertura das quatro divisões maiores do país. Só o Manchester United, por exemplo, vai abocanhar a bagatela de US$ 5 milhões.
5. Na Espanha, onde as agremiações negociam diretamente com as emissoras, o Barcelona recebe quase US$ 30 milhões de uma TV catalã.
6. Um único jogo da Copa da Uefa, o menos importante dos torneios interclubes da Europa, no mínimo custa em torno de US$ 300 mil.
Como se fazem, na Europa, os contratos com as TVs abertas? Jamais em reuniões privadas. Fazem-se através de uma leilão público ou uma licitação. Leva quem oferece as melhores garantias de equipamento, de promoção -e de dinheiro.
Caso recente da Itália, onde se digladiaram a RAI, rede do governo, e a TeleMontecarlo, ex-Roberto Marinho, atualmente propriedade de Vittorio Cecchi-Gori, que conquistou os direitos de transmissão de, ao menos, três pelejas por semana, Série A e Série B, nas noites de sábado e domingo, e nas tardes de domingo.
A briga foi tão ferrenha que, preocupado, Lamberto Dini, então presidente do conselho de ministros da Bota, numa atitude inusitada em seu cargo, manifestou sua preocupação a Mario Pescante, presidente do Comitê Olímpico da Itália. Não pela briga, mas pelas garantias que a TeleMontecarlo dava no duelo com a RAI.
Sim, na Europa, futebol é comércio, negócio, coisa seríssima. Quando Cecchi-Gori bateu a RAI, também, na licitação das transmissões das pugnas da "Squadra Azzurra", perto de US$ 7 milhões o prélio, funcionários da estatal se declararam em greve contra a "incompetência" de Letizia Moratti, a superintendente da rede oficial. Observação do âncora Giampiero Galleazzi: "Incrível a RAI não acompanhará as partidas da 'Azzurra'."
Muito mais incrível, no Brasil, é a portentosa Globo comprar eventos, bloquear as concorrentes -e não colocar o que adquiriu no ar.

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