São Paulo, sábado, 1 de março de 1997
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O NOVO DESEMPREGO

Foi negativo o saldo do nível de emprego formal na década de 90. Por trás das oscilações de ano a ano, que podem ser explicadas pela conjuntura econômica, está uma tendência de fundo, mais preocupante. Trata-se do efeito do avanço tecnológico sobre a demanda de trabalho.
Entre 90 e 92, foram fechados 2,15 milhões de vagas. O Brasil sofria as consequências do confisco de ativos financeiros e da recessão promovida pelo governo Collor. Em 93, o país voltou a crescer, e o nível de emprego recuperou-se. Foram abertos 154 mil novos postos de trabalho nesse ano e mais 274 mil em 94. Mas essa melhora foi logo perdida nos dois anos seguintes. Só em 95, eliminaram-se 412 mil vagas. No ano passado, desapareceram mais 305 mil. Os dados são do Ministério do Trabalho.
As altas taxas de desemprego da Europa têm provocado discussões inconclusivas sobre o efeito das tecnologias poupadoras de trabalho. As propostas de solução variam da redução da jornada à desregulamentação das relações trabalhistas.
Nos EUA, o nível de emprego é maior, e muitos atribuem esse resultado à menor incidência de encargos sociais. Entretanto, a tese se depara com vários contra-exemplos. A Suécia tem um sistema de proteção social superior ao da Espanha, e no entanto a taxa de desemprego é quase um terço da espanhola. O Japão tem mercado de trabalho extremamente rígido, e os índices de desemprego são inferiores ao norte-americano.
No Brasil, a falta de oportunidades de trabalho infelizmente promete ser um problema cada vez mais desafiador. Se é claro que, sem a manutenção do crescimento econômico, não será alcançado um baixo nível de desemprego, não se pode afirmar com segurança que basta o crescimento para expandir a oferta de vagas.
As consequências positivas de uma expansão da atividade econômica chocam-se com o efeito contrário das tecnologias que expulsam o homem do trabalho. E o saldo desse confronto ainda é uma incógnita.

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