São Paulo, sábado, 1 de março de 1997
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Notícia do Rio

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - A 1º de março de 1565, há exatos 432 anos, Estácio de Sá entrava com suas caravelas na baía de Guanabara, fixando seu acampamento ao pé do Pão de Açúcar. A data ficou como a da fundação da cidade, mas ela tinha dois donos anteriores: os tamoios, que aqui estavam desde que as águas do dilúvio secaram, e os franceses, que chegaram em 1555, quando a frota de Villegaignon fundeou naquilo que os portugueses, em apressadas expedições ao local, interessados apenas em ouro, pensavam que fosse a foz de um rio.
Num prenúncio da bagunça que dominaria o Rio pelos próximos séculos, a futura cidade teve então três donos -o que era uma forma de não ter dono algum, até pelo menos o surgimento dos bicheiros. Franceses, portugueses e tamoios, como os bicheiros, dividiam o território em zonas de influência.
Durante 20 meses em que cada qual ficou na sua, os portugueses nada fizeram para desalojar os franceses que haviam se fortificado no morro da Glória e tinham a simpatia dos tamoios -que com ou sem motivos desconfiavam dos portugueses.
Até que, a 20 de janeiro de 1567, dois anos depois de sua chegada, Estácio de Sá recebe reforços de Portugal e decide brigar.
Ferido no rosto por uma flecha tamoia e envenenada, ele pagou com a vida a batalha que durou poucas horas e teve poucas vítimas -menos do que a chacina de Vigário Geral, anos mais tarde.
A partir da expulsão de franceses de algum lugar, sempre começa alguma coisa, seja no Rio ou na Indochina. A cidade mereceu o título de leal e heróica. Num desvario carnavalesco dos anos 30, mereceu também o título de maravilhosa.
Gosto muito de uma data local: 1711, quando Duguay-Trouin sequestrou a cidade. O governador fugiu, os homens válidos foram presos. Esse primeiro sequestro, anúncio de outros, custou ao Rio 610 mil cruzados, cem caixas de açúcar e 200 bois. Até que não foi caro.

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