São Paulo, quarta-feira, 5 de março de 1997
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Dupla de brasileiros rapta anão na Califórnia

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Pela graça de Deus, nem todo turista brasileiro sofre de acefalia, como os minivândalos que costumam furar fila na Disneyworld ou os maxibatráquios que fumam andando de lá pra cá dentro de aviões.
Veja esta dos dois gaúchos, Júlio e César (a pedidos, não dou os nomes verdadeiros), que rodaram a Califórnia de automóvel nas férias de verão.
A primeira parada foi San Diego. No subúrbio da cidade, eles deram de cara com uma casa, dessas bem "american kitsch", com um anão de jardim estacionado no gramado da frente.
Júlio e César não precisaram nem mesmo trocar olhares de aprovação: desceram correndo do carro, passaram a mão no anão, enfiaram-no no banco de trás e deram no pé. Mas não sem antes anotar o endereço da casa e o nome do proprietário que constava da caixa do correio.
Em Venice Beach, a parada seguinte, eles tiraram fotos do anão abraçado a um grupo de bonitonas de biquíni e as enviaram ao seu endereço "domiciliar", acompanhadas do seguinte bilhete: "Olá, pessoal! Fui sequestrado, mas não há motivo para preocupação. Estou entre amigos, como vocês podem ver pelas fotos, e a viagem até agora tem sido ótima. 'Wish you were here', um beijo, muita saudade e, quando puder, mando mais notícias".
A cada cidade em que paravam, a cada parque nacional, a cada praça, Júlio e César repetiam o ritual: mais um bilhete e mais fotos do amiguinho de gesso, ora posando ao lado de uma sequóia gigante, ora ao lado de uma placa de estrada ou um monumento equestre. Assim foi indo, com o anão servindo de modelo fotográfico, até o final da aventura.
Antes de tomar o avião em Los Angeles, Júlio e César foram levar o companheiro de viagem até sua casa.
Os bons gaúchos ainda tiveram a delicadeza de deixá-lo exatamente no mesmo pedaço de gramado de onde o haviam retirado, junto com uma sacola cheia de caixinhas de fósforos dos lugares pelos quais tinham passado, xampus de hotel e motel, hastes para remexer coquetel, cartões-postais e outros suvenires recolhidos ao longo do caminho.
A história é verdadeira e não surpreende que tenha sido tramada por gaúchos. Afinal, o Rio Grande do Sul é a capital tapuia do curta-metragem. The end.

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