São Paulo, quarta-feira, 5 de março de 1997
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Albânia admite que não controla o sul

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O governo da Albânia admitiu ontem que a situação no sul do país está "completamente fora de controle", segundo o chanceler Tritan Shehu. Ele acha, entretanto, que a possibilidade de haver uma guerra civil diminuiu.
A hipótese não é improvável. O país do sudeste europeu, o mais pobre do continente, vive um estado de caos por causa das manifestações populares contra a quebra no sistema financeiro.
O governo decretou estado de emergência. Os manifestantes no sul do país se armaram e podem enfrentar o Exército, que mandou tropas e tanques para a região.
As declarações de Shehu foram publicadas ontem pelo diário de esquerda italiano "L'Unitá", ligado aos comunistas. O governo do presidente Sali Berisha acusa a antiga elite stalinista do país de causar os tumultos.
Na verdade, eles começaram em janeiro, quando bancos que operavam um sistema de investimentos conhecido como "pirâmides" quebraram. A maioria da população havia aplicado dinheiro nos bancos acreditando que, de acordo com o número de participantes, poderia ter rendimentos de até 100% ao mês.
Berisha foi acusado de conivência com os bancos. As manifestações ficaram cada vez mais tensas.
Em Sarandë, um dos focos da rebelião, a população se prepara para enfrentar o Exército. Segundo a agência "France Presse", que enviou um repórter à cidade, as tropas estão a 3 km do local. Um taxista foi morto em um tiroteio.
Em Gjirokastër, 40 km ao norte, os manifestantes incendiaram prédios públicos e invadiram um depósito de armas.
Um grupo de jovens manifestantes atacou jornalistas estrangeiros. A imprensa também sofre restrições do governo, que incluiu a censura no estado de emergência.
A população de Fier, ao sul de Tirana, a capital, fez uma barricada na estrada para impedir a passagem até Vlorë, cidade portuária que é o centro dos protestos.
Lá, houve tiroteios, e uma menina de quatro anos morreu enquanto brincava no jardim de casa. O Ministério da Saúde disse que hospitais foram saqueados.
Em Tirana, 48 pessoas foram presas por estar nas ruas entre 20h de anteontem e 7h de ontem (16h e 3h em Brasília). Um bar e um jornal foram incendiados na capital.
Os socialistas se reuniram ontem com Berisha para propor um governo de união nacional, mas seu líder, Pandeli Majko, disse que não houve avanços.
O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Dheme Kosova, foi substituído por um conselheiro de Berisha. O governo começou a tentar punir militares que não reprimiram os rebeldes.
Dois militares (um major e um capitão) desertaram e pousaram com seu avião MiG-15 em Galatina, cidade no sul da Itália, na manhã de ontem. Eles disseram que tomaram a decisão após receberem ordem de disparar contra veículos civis.

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