São Paulo, quinta-feira, 6 de março de 1997
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Telefonemas ligam Perfil a Merrill Lynch

VALDO CRUZ; FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Corretora relacionada a Ramos fez ligações para banco dos EUA em que ex-coordenador de Pitta tem conta

A empresa Bird, especializada em comércio exterior, da corretora Perfil, mantinha contatos telefônicos constantes com o banco Merrill Lynch, em Nova York, mesma instituição na qual Wagner Baptista Ramos tem conta nos EUA.
A informação está na relação de ligações telefônicas da Bird e da Perfil enviada ontem à CPI dos Precatórios pela Telesp (Telecomunicações de São Paulo).
Os senadores que comandam as investigações suspeitam que Wagner Ramos, ex-coordenador da Dívida Pública da Prefeitura de São Paulo, não tinha apenas um contrato com a Perfil, mas sim uma sociedade com a corretora.
A Perfil, proprietária da Bird, segundo o senador Vilson Kleinubing (PFL-SC), participou das operações de venda de títulos estaduais de Santa Catarina, Alagoas e Pernambuco.
A corretora faturou em comissão, nessas operações de lançamento de títulos para pagamento de precatórios, mais de R$ 40 milhões. Pelo menos R$ 26 milhões foram transformados em dólar e remetidos para o exterior.
A relação de telefonemas da Bird e da Perfil indica pelo menos 110 telefonemas para a Merrill Lynch entre outubro de 96 e janeiro deste ano. As ligações foram feitas para os números 449-6177, 449-6526 e 449-6571, de Nova York.
Na lista telefônica à qual a Folha teve acesso, apenas um dos telefonemas para os Estados Unidos não é da Merrill Lynch. A Bird entrou em contato, no dia 22 de novembro passado, com o Morgan Stanley, em Nova York, pelo número 761-5055.
A Folha obteve cópias de oito contas telefônicas. Duas são da Perfil e seis da Bird.
Além dos telefonemas para os Estados Unidos, há também muitos contatos com outros Estados brasileiros.
Em 16 de julho passado, por exemplo, consta uma ligação da Perfil para a Subsecretaria Geral para Assuntos de Integração, um departamento do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília.
Em 12 de dezembro, a Bird telefonou seis vezes para a Gerência Executiva de Controle Financeiro, da CEF (Caixa Econômica Federal), em Brasília.
As duas contas de Ramos
O ex-funcionário da Prefeitura de São Paulo Wagner Ramos possui duas contas nos Estados Unidos, ambas no Merrill Lynch -uma em Nova York, com US$ 250 mil, e outra em Miami, com US$ 1,041 milhão.
A primeira, pelo que deve dizer Wagner Ramos no próximo depoimento à CPI (possivelmente na próxima quarta-feira), era destinada a depósitos de economias pessoais. A segunda, para depósitos referentes às comissões obtidas nas negociações com títulos.
A CPI quer bloquear as contas de Ramos no Exterior. A Receita Federal quer saber a origem desses recursos, quando foram abertas as contas e o saldo atual.
Para isso, o órgão deve expedir nos próximos dias uma notificação endereçada a Ramos solicitando essas informações.
Depósitos de R$ 28,7 mi
Um rastreamento na conta 42-9, que a Perfil mantinha no Banco Dimensão, revelou à CPI que foram realizados depósitos em cheque no valor total de R$ 28.678.124,56.
Esses R$ 28,678 milhões foram depositados na conta da Perfil de 11 de julho a 27 de dezembro passado. A CPI ainda não teve tempo de investigar quem fez os depósitos nem para quem a Perfil repassou o dinheiro.
Os dois proprietários da Perfil e da Bird deveriam depor ontem na CPI, em sessão secreta. Gerson Martins e Luiz Calábria fariam o segundo depoimento do dia.
A sessão secreta começou às 18h35, com o depoimento do empresário Sérgio Derneka, da SMJT Assessoria Empresarial.
O último depoente do dia seria Enrico Picciotto, da distribuidora Split.
Segundo o presidente da CPI, Bernardo Cabral, as sessões seriam abertas se as informações trazidas não justificassem o depoimento secreto.
Os senadores esperavam que a sessão fechada facilitasse a revelação de detalhes do esquema de fraudes. Não havia previsão para término.

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