São Paulo, quinta-feira, 6 de março de 1997
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O caso Rafael Grecca

LUÍS NASSIF

No ano passado, a Prefeitura de Curitiba obteve financiamento do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) para asfaltar 85 bairros da cidade, beneficiando população de mais de 1 milhão de habitantes.
A prefeitura apresentava baixos índices de endividamento, o financiamento era a juros favorecidos, a causa era nobre, e a Câmara Municipal havia aprovado por unanimidade. Mas necessitava da aprovação do Senado.
A papelada foi enviada e -segundo o prefeito Rafael Grecca- emperrou na Comissão de Economia (presidida pelo senador Gilberto Miranda).
Ao mesmo tempo, chegavam informações de que a aprovação de processos dessa natureza podia levar até 18 meses.
Impaciente, e com receio de perder o prazo, Grecca rumou para Brasília. Entrou em contato com conhecidos, inclusive da imprensa, para saber o que estava ocorrendo.
O que ouviu foi o suficiente para que -na opinião de um amigo- "rodasse a baiana". A partir daí, entrou rijo no processo, usando as armas a que tinha direito.
Procurou pessoalmente diversos senadores e figuras influentes da República, solicitando ajuda para desembaraçar o processo. Falou com Marcos Maciel, Eduardo Suplicy e Sérgio Motta, entre outros, explicando a legitimidade do pleito.
Depois, foi até o Senado. Na saída, fez questão de juntar os jornalistas e declarar, em alto e bom som que não aceitaria pagar propinas e que, se recebesse alguma proposta indecorosa, reuniria a imprensa e denunciaria.
Pouco depois, o processo saiu das mãos de Miranda e foi distribuído ao senador Osmar Dias. Apesar de adversário político de Grecca, Dias comportou-se corretamente, aprovando o pleito no prazo requerido, inclusive com apoio do senador Roberto Requião.
Provas e evidências
A rigor, Grecca não tem nenhuma prova concreta a oferecer à CPI dos Precatórios. Foi isso o que informou à CPI, em correspondência enviada antes de ontem.
De qualquer maneira, o clima que pairava sobre o processo foi suficientemente dúbio para que o prefeito de uma das principais cidades brasileiras sentisse a necessidade de, na porta do Senado Nacional, juntar a imprensa para declarar que não aceitaria propostas escusas para a aprovação do pleito.
Processo
Segundo o senador Roberto Requião -que decidiu investigar o processo-, o pedido de Curitiba foi lido no plenário do Senado no dia 14 de agosto. No dia 15 foi para a Comissão de Economia. Lá constatou-se a falta do parecer da Procuradoria Geral da República e da Secretaria do Tesouro.
Por isso, teria ficado pendente até 15 de setembro, quando então foi encaminhado ao relator, Osmar Dias.
Delegado Tuma
É curiosa a estratégia do delegado e senador Romeu Tuma, de avisar publicamente sobre as batidas de surpresa que irá efetuar em cofres e contas de acusados.
Como é delegado experiente, o procedimento deve estar em linha com as modernas técnicas de investigação. Foi o mesmo procedimento, aliás, adotado por Tuma nas investigações sobre o caso Tieppo -escândalo do mercado financeiro paulista no início dos anos 80.
Araucária
A propósito da nota de ontem, sobre as operações de câmbio na fronteira com o Paraguai, a coluna recebeu as seguintes informações adicionais de Ruth Bandeira, diretora de operações do Banco Araucária.
O Banco Araucária, não a corretora, faz efetivamente o terceiro movimento de flutuante do país. Mas não é o único banco privado autorizado a operar em Ciudad del Leste. Há também o Rural, além do Banco do Brasil, Bemge, Banespa e Banestado.
Ela atribui a autorização do Banco Central ao fato de ter dado o sangue, praticamente se mudado para Foz do Iguaçu, e demonstrado segurança na operação.
Na média, diz ela, o movimento diário de câmbio do banco é de US$ 10 milhões, e não de US$ 50 milhões. E justifica os valores pelo fato de Ciudad del Leste ter se transformado no terceiro maior mercado do mundo, depois de Hong Kong e Miami.

Email: lnassif@uol.com.br

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