São Paulo, quinta-feira, 6 de março de 1997
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As mulheres e a cultura local

JORGE WERTHEIN

O que há de novo neste próximo dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, em relação à 4ª Conferência das Nações Unidas sobre a Mulher, realizada na China? Naquela ocasião, mais de 10 mil mulheres sinalizaram com o poder da mobilização globalizada e de experiências locais, na reivindicação de que os direitos das mulheres são direitos humanos, somando-se todas na negação de exclusões e estereótipos.
As mulheres no Brasil, paralelamente, têm repetido as denúncias sobre violações de direitos, precariedade de serviços sociais, diferenças de rendimentos e de poder, de trabalho, do prazer e do lazer.
A Unesco compartilha com as organizações de mulheres o compromisso por uma cultura que respeite diferenças e se oriente pela igualdade, em especial no campo da educação e da cidadania, considerando especificidades de jovens e adultas.
Essa postura foi reafirmada no documento final da reunião do Fórum Consultivo Internacional sobre Educação para Todos, realizada em Amã (Jordânia), em junho do ano passado.
"A prioridade das prioridades deve continuar a ser a educação de mulheres e meninas (...). Não pode haver sucesso duradouro na educação fundamental sem que o 'gap' de gênero seja eliminado", diz o documento.
No Brasil, o compromisso avança, com o estímulo a projetos que contribuam para a implementação das plataformas de ação das conferências temáticas da ONU, como a de Pequim, sobre a mulher; a do Rio, sobre meio ambiente; a do Cairo, sobre população; a de Copenhague, sobre desenvolvimento social.
Considerando a ênfase nos documentos de Pequim sobre o poder -o que operacionaliza-se, no Brasil, pelas quotas nas últimas eleições e em vários partidos e sindicatos-, sugere-se aplicar o conceito contextualizando-o, de forma a contemplar grupos de mulheres em suas comunidades.
O neologismo de Pequim, "empoderamento", soa estranho, mas deve se tornar corriqueiro: empoderamento sugere processo, indicando que, além da ocupação de lugares tradicionais de poder, urge que se façam investimentos para tornar acessíveis às mulheres os recursos, as qualificações e as tecnologias.
Esse conceito amplia o debate sobre poder e gênero, não só para mulheres em situações agudas de exclusão, mas para as que, por necessidades em nível local, lidam com estratégias de sobrevivência, por metas de igualdade e de enriquecimento cultural.
Para a Unesco, "empoderamento" é a maneira de alcançar um tipo de sociedade diferente quanto a formas de realizar capacidades e satisfazer necessidades. Com tal sentido e tendo como referência empírica duas áreas estratégicas à vida de homens e mulheres no Brasil e no mundo (população e meio ambiente), a Unesco inicia projeto -aqui e em outros países- que deverá orientar-se pela organização das mulheres por movimentos sociais ou associações, em comunidades nas áreas rurais e urbanas.
Como representante da Unesco, educador e cidadão, solidarizo-me com as mulheres por suas denúncias e reivindicações por direitos e enfatizo: mais que justo movimento por inclusões, o das mulheres, como afirma Hobsbawm, é a "revolução cultural" mais importante do século. Contribui para o questionamento de paradigmas hoje estreitos, subverte "verdades" cômodas na defesa de privilégios, contribui para a promessa de novos tempos para homens e mulheres. Parabéns a quem compreende que, com tal revolução, se perdemos, nós, homens, privilégios injustos, ganhamos a riqueza da comunicação, a descoberta do outro, da outra. Obrigado às mulheres.

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