São Paulo, sexta-feira, 7 de março de 1997
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Investigação desbarata 'turma de Santana'

FÁBIO SANCHEZ e MARCIO AITH

MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL

Grupo de amigos que se tornaram "laranjas" do esquema dos precatórios agora troca acusações

A CPI dos Precatórios pode acabar em pizza, mas já conseguiu, ao menos, desvendar e demolir um antigo relacionamento de um grupo de amigos de Santana (zona norte de São Paulo).
Nesse local se concentra um grupo de "laranjas" que cederam seus nomes para empresas realizarem operações financeiras ilegais. Antes da CPI, conviviam felizes e até viajavam juntos ao exterior. Agora, trocam pesadas acusações por meio de seus advogados.
Vieram desse grupo os primeiros "laranjas" que deram depoimentos à CPI assumindo que foram usados e que assinaram cheques em branco para uso de empresas envolvidas nas irregularidades.
Ibraim Borges Filho, dono da IBF Factoring, disse que a distribuidora de valores Split movimentava R$ 123 milhões em sua conta no Banco Dimensão. Sua empresa nunca funcionou, mas oficialmente ocupava um endereço na rua Augusto Tolle, uma região comercial de Santana.
Alexandre Desimoni da Mota, dono da Tradetronic Eletrônica, assinou 250 cheques em branco para que a distribuidora Negocial movimentasse, em sua conta no Banco do Estado de Rondônia, R$ 273 milhões. Mora num conjunto de apartamentos na rua Francisco Ranieri, no mesmo bairro.
Casal Mammana
Depois de descobertos, os dois contaram à CPI que foram envolvidos no esquema de operações ilegais pelo mesmo casal: Pedro e Cláudia Mammana Moquedace, vizinhos de ambos. Pedro é amigo de infância do "laranja" Ibraim. Cláudia é ex-sócia e ex-namorada do "laranja" Alexandre.
Hoje separados, Pedro e Cláudia trocam acusações. O advogado dela, Walter Beltrami Filho, diz que a separação dos dois é litigiosa e deve-se "às amizades com as quais Pedro começou a se envolver".
Cláudia garante que Pedro mantém "ótimas relações" com os proprietários da Split. Segundo ela, Pedro teria propriedades em sociedade com donos da Split. Também teria comprado um automóvel BMW deles.
Cláudia hoje namora José Luis Priolli, um dos donos da distribuidora Negocial. Ela o conheceu em uma viagem à Argentina, quando ainda era casada com Pedro. Apesar disso, nega que tenha sido ela a ligação entre o ex-namorado e "laranja" Alexandre e a Negocial.
"O Alexandre e o Pedro se uniram contra mim", garante Cláudia. Segundo ela, Alexandre se envolveu com Pedro porque "sempre quis saber como meu ex-marido ganhava dinheiro".
Procurado pela Folha , Pedro Mammana Moquedace, dono de uma pequena metalúrgica, diz que está proibido por seu advogado de se pronunciar sobre o assunto, mas afirma que sua ex-mulher "saiu do sério".
Entrega
Em seu depoimento à CPI, Ibraim entregou o ex-amigo. Disse que Pedro Mammana o apresentou à Split e que levava uma comissão sobre o dinheiro movimentado em sua conta corrente. Mammana negou. Seu advogado, Oswaldo Júnior, garante que ele apenas apresentou Ibraim a um amigo que conhecia na Split.
Alexandre Desimoni da Mota, da Tradetronic, fez mais do que entregar a ex-namorada e ex-sócia Cláudia Mammana. Disse que ela o "fabricou para usá-lo", segundo seu advogado, André Cardoso.
Para ele, foi idéia de Cláudia formar a empresa, para que fosse usada como "laranja". Em seu depoimento à Polícia Federal, Alexandre disse que a ex-namorada garantia que receberiam muito dinheiro e que não haveria problemas com a Justiça, já que seu ex-marido faria a mesma coisa "há vários anos".
Cláudia nega e diz que a Tradetronic só entrou no esquema após sua retirada da sociedade, em janeiro de 1996. "Enquanto eu estava lá, me encarregava de pagar as contas e ele de gastar o dinheiro."

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