São Paulo, domingo, 9 de março de 1997
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Setor de serviços atrai migrante dos anos 90

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

São as ocupações no setor de serviços, muito mais do que empregos industriais, que estão ligadas aos migrantes dos anos 90 em São Paulo. É o que indica o cruzamento dos dados do Censo 96 com as estatísticas de emprego formal do Ministério do Trabalho.
Dez entre as dez regiões do Estado que mais atraíram migrantes entre 91 e 96 criaram mais postos de serviços do que na indústria.
Em metade delas o contraste entre os setores da economia foi ainda mais dramático: as indústrias locais não criaram novas vagas. Ao contrário, eliminaram.
Mesmo assim, regiões como as de Campinas, Jundiaí, Sorocaba, Barretos e a da própria capital receberam mais pessoas de outras regiões paulistas e de outros Estados do que expulsaram.
Somadas, essas cidades e seus entornos absorveram 126 mil migrantes nos últimos cinco anos -segundo levantamento da Fundação Seade (Serviço Estadual de Análise de Dados).
Nesse período, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados mostra que essas regiões perderam 246 mil vagas na indústria. Ao mesmo tempo, geraram 217 mil postos de trabalho em serviços e outros 142 mil no comércio.
"Os números mostram: o setor terciário é que vem aumentando. Há uma transferência de mão-de-obra da indústria para comércio e serviços", diz Carlos Eugênio de Carvalho Ferreira, demógrafo da Fundação Seade.
Símbolo de modernidade nos 70, a indústria não é a única que está perdendo, nos 90, o status de vanguarda do desenvolvimento.
Slogans como "São Paulo não pode parar" ou "São Paulo é a locomotiva do Brasil" saíram dos trilhos. Os dados do Censo 96 confirmam o que os demógrafos já desconfiavam: São Paulo já parou -ao menos, parou de crescer.
Locomotiva enguiçada
"A locomotiva enguiçou". Assim, com uma pitada de ironia, o demógrafo Celso Simões, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, define a freada no crescimento populacional paulista.
Após ver sua população aumentar na velocidade alucinante de 3,67% ao ano durante a década de 70, a locomotiva paulistana estacionou, nos últimos anos, em 0,34% ao ano de crescimento. Um ritmo dez vezes menor.
Entre as causas da desaceleração está a desconcentração econômica do Estado. Em 80, 64,3% dos trabalhadores paulistas que tinham sua carteira assinada por alguma indústria estavam na Grande São Paulo. Dezesseis anos depois, essa fatia emagreceu para 57,9%.
É que parte do parque industrial paulistano migrou, durante a década passada, para cidades do interior paulista, principalmente no eixo ao longo das rodovias.
Na década de 90, esses grandes municípios do interior começaram a reproduzir o efeito centrífugo que havia marcado o fluxo migratório da capital anos antes: a expulsão das populações pobres para os municípios vizinhos.
Assim, enquanto a cidade de Jundiaí, a 60 km da capital, expulsava 12.658 pessoas nos últimos cinco anos, a vizinha Cabreúva crescia a uma média de 4,58% ao ano e acomodava 2.583 migrantes entre 1991 e 1996.
Maiores pólos de desenvolvimento do interior do Estado, as cidades com mais de 100 mil habitantes estão se tornando, progressivamente, centros de serviços -em detrimento do crescimento do emprego industrial.
"Essa dinâmica é que, cada vez mais, determinará a nova lógica demográfica: a cidade pólo, em vez de concentrar população, vai concentrar serviços", diz José Marcos Pinto da Cunha, pesquisador do Núcleos de Estudo de População da Unicamp.
Jundiaí eliminou 4.958 empregos industriais, mas criou 6.948 de serviços. Sorocaba, que é o núcleo de uma das regiões que mais crescem, cortou 3.375 postos na indústria e gerou 4.783 em serviços.
Ao mesmo tempo, regiões mais distantes da capital passaram a absorver mão-de-obra industrial. A 451 km de São Paulo, São José do Rio Preto criou 1.499 postos de trabalho na indústria desde 1991.

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