São Paulo, domingo, 9 de março de 1997
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Bactéria botulínica é usada em plástica

MARCOS PIVETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Agente causador do botulismo, uma doença que provoca paralisia e pode levar à morte, a toxina botulínica apareceu nas últimas semanas de uma forma trágica.
No mês passado, uma moradora de Santos (SP) comeu palmito contaminado pela toxina e estava até sábado na UTI do hospital Alberto Einstein em estado grave.
Na cirurgia plástica, essa mesma substância, produzida pela bactéria Clostridium botulinun, tem sido usada de forma benévola para retirar rugas na testa e entre os olhos e eliminar os famosos pés-de-galinha.
Com uma agulha, os médicos injetam 1 ml da toxina, uma quantidade mil vezes menor do que a dose tóxica, em meia dúzia de pontos do rosto do paciente.
Depois de 48 horas, garantem os médicos, os resultados começam a aparecer. Em uma semana, dizem, a pele fica lisa. O efeito rápido faz da nova técnica uma das preferidas das modelos, que não podem perder tempo para se embelezar.
Por ser um relaxante muscular, a toxina, cujo nome comercial é Botox, paralisa o movimento de contração na área onde é aplicada.
Como o músculo pára de contrair, a pele na região permanece lisa e esticada, eliminando assim as rugas e linhas de expressão.
"A aplicação da injeção não dura mais do que 10 minutos", disse o cirurgião paulista Paulo Keiko Matsudo, 46, pioneiro dessa técnica no Brasil.
A aplicação do Botox não é um ato cirúrgico, não requer internação em hospital, nem uso de anestesia. Todo procedimento é feito na clínica do cirurgião plástico.
A ação anti-rugas da toxina é temporária. A cada seis meses, em média, o paciente tem que voltar para receber uma nova injeção. Cada aplicação custa, em média, R$ 600, cinco a dez vezes menos que uma plástica no local.
"Como a aplicação tem um efeito provisório, qualquer erro que o médico possa vir a cometer tem conserto", afirmou o cirurgião plástico carioca Liacir Ribeiro, 58.
Para testar a eficácia das injeções, Ribeiro se submeteu, há dois meses, a uma aplicação da toxina. "Como o resultado foi bom, agora estou aplicando o produto em minhas clientes", disse Ribeiro.
As injeções não são indicadas para mulheres grávidas ou pessoas com distúrbios musculares.
Antes de ser descoberta pelos cirurgiões plásticos, a toxina botulínica, sempre em doses ínfimas, já vinha sendo usada há décadas em outras especialidades médicas. Os ortopedistas a utilizam como como relaxante muscular.
Os otorrinolaringologistas a usam para corrigir distúrbios no tom da voz das pessoas.
Os neurologistas a empregam no combate a tiques nervosos, como um olho que não pára de piscar.

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