São Paulo, domingo, 9 de março de 1997
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Volatilidade da inflação é ruim, diz FGV

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

A volatilidade dos índices de inflação brasileiros está preocupando a FGV (Fundação Getúlio Vargas), um dos principais centros de estudos econômicos do país.
A edição de fevereiro da revista "Conjuntura Econômica", publicada pela FGV, afirma que "os índices de inflação ainda oscilam demasiadamente ao longo dos meses", mesmo com a inflação anual chegando à casa de um dígito.
O IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna), da própria FGV, teve em 96 uma alta de 9,34%, mas oscilou de 1,79% em janeiro a 0,004% em agosto.
A publicação da FGV diz que "o governo pode e deve (...) conduzir as principais correções de preços de modo a tornar os índices mais homogêneos ao longo do ano".
Para o economista Aloísio Campelo Júnior, redator-assistente da revista, é possível evitar, por exemplo, que a correção dos preços dos combustíveis coincida com correções previsíveis como a das mensalidades escolares em janeiro, como ocorreu este ano.
"A gente não está falando em controle de preços, mas o governo poderia negociar uma agenda de reajustes", disse Campelo.
Para ele, o maior problema gerado pela volatilidade é a oscilação das taxas de juros reais (descontada a inflação) que ela provoca.
"Queremos chamar a atenção para um problema que não é fundamental, mas que está atrapalhando", disse Campelo. O fundamental, segundo ele, continua sendo o déficit público.
Impacto no bolso
O secretário de Acompanhamento Econômico da Fazenda, Bolívar Moura Rocha, não se sensibilizou com a sugestão da FGV.
Ele disse que a estabilidade de preços permite decisões sobre reajustes com base em duas premissas: a necessidade do reajuste e o impacto no bolso do consumidor.
Para ele, hoje o governo só tem ingerência nos combustíveis e tarifas de energia e de comunicações.
No caso das tarifas de transportes urbanos e de água e esgoto, de responsabilidade de Estados e municípios, Rocha disse que o governo federal apenas "conversa" com eles sobre os reajustes.
Segundo o secretário, o governo, mesmo atento à oportunidade de determinados reajustes, não chega ao ponto de, "artificialmente", protelar por preocupação com seu impacto na inflação mensal.
A superintendente da área técnica da Andima (Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto), Valéria Areas Coelho, disse que, embora ainda se observe volatilidade na inflação, ela já não interfere nos juros.
Segundo ela, além de os papéis mais negociados hoje serem de médio e longo prazos, o governo fixa os juros não apenas com base na inflação, mas também em outros indicadores, como o nível de atividade e a taxa de câmbio.
Para José Guilherme dos Reis, da CNI (Confederação Nacional da Indústria), o que incomoda é que é o governo que produz a volatilidade. "O setor público poderia moderar os reajustes, mesmo considerando casos como ajustes prévios para privatizações", diz.

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