São Paulo, domingo, 9 de março de 1997
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Made in Brazil

SÍLVIO LANCELLOTTI

O comportamento de dois jogadores brasileiros, ambos campeões do mundo em 1994, pode levar a uma mudança radical nas relações de mercado entre o futebol no país e o futebol internacional.
Trata-se de Ronaldinho, hoje no Barcelona da Espanha, e de Muller, atualmente no Perugia da Itália. Ambos estão pressionando os seus clubes para que reformulem algumas cláusulas de seus contratos.
Muller tem tradição neste tipo de atitude. Não cumpriu corretamente o seu compromisso com o Torino da Bota. Muito menos cumpriu o seu compromisso com o Kashiwa Reysol do Japão. Um nômade clássico, está na Itália faz menos de três meses e já afirma que deseja partir.
Ocorre que o fisco da Bota lhe cobra cerca de US$ 500 mil, coisa dos seus tempos de Torino, onde atuou entre 88 e 90. Frase de Luciano Gaucci, o presidente do clube: "Certos atletas são estranhos. Não se esquecem de exigir os seus salários e de reclamar por um posto no time. de todo modo, logo se esquecem dos seus acordos, das suas obrigações".
Ronaldinho, contrato de oito anos com o Barcelona, firmado em junho de 96, ameaça abandonar o time "blaugrana" se o compromisso não for revigorado. Promete utilizar, na rescisão eventual, o disposto numa cláusula que impunha a data de 26 de fevereiro para uma proposta do clube catalão.
O Barça não se moveu. Quem dispuser de US$ 30 milhões, teoricamente, terá o direito, no próximo junho, de retirar o craque de seu domicílio atual.
Diz-se, na Espanha, que a Nike, patrocinadora de Ronaldo, vai bancar a rescisão e, depois, alugar o jogador a agremiações variadas, uma forma de promover seus produtos. Como negócio, parabéns. Como conceito, no entanto, uma agressão à mínima ética do esporte. Se isso de fato ocorrer, quem confiará no jogador de futebol do Brasil?

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