São Paulo, domingo, 9 de março de 1997
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Malvinas buscam petróleo e autonomia

RODRIGO BERTOLOTTO
DE BUENOS AIRES

Passados 15 anos da Guerra das Malvinas, saldo do conflito deixou de ser o número de baixas: 648 argentinos contra 252 britânicos.
Agora, a contabilidade é outra: a economia local se multiplicou por sete com a paz, tendo o Produto Interno Bruto per capita subido a US$ 60.076, o mais alto da América, superior até ao dos EUA.
Os kelpers, nome dos habitantes das ilhas, são atualmente proprietários de 99% das fazendas, que antes estavam dominadas por empresas com sede em Londres.
E o petróleo joga um papel político e econômico essencial no futuro do arquipélago do Atlântico Sul.
Não seria de estranhar que no futuro os livros de geografia apontem um quarto país da América do Sul sem fronteira com o Brasil, além de Chile, Equador e Trinidad Tobago.
"Muitos aqui acreditam que, se encontrarmos petróleo, teremos mais autonomia e financiaremos nossa defesa", afirma Lisa Lindell, editora do "Penguin News", um dos dois jornais malvinenses.
Em outubro último, as Malvinas distribuíram as licenças de exploração, e as 13 empresas vencedoras já começaram os testes. As Malvinas (Falkland, para os ingleses) e Reino Unido já se enfrentam pelos lucros do negócio.
As ilhas podiam deixar de ser território dependente e passar à Commonwealth, associação de antigas colônias britânicas.
Boom econômico
"Não estou de acordo com a exploração do petróleo. Isso vai trazer muitos estrangeiros para cá, danificar nossa vida silvestre e aumentar a violência", afirma Vanda Johnson, 31, gerente da pousada Emma Guest House.
Durante 150 anos, a economia da ilha dependeu da lã, em queda no mercado internacional há uma década. Mas a pesca suplantou a lã como principal produto, responsável por 58% da economia.
As Malvinas possuem 12 barcos com bandeira própria e vendem licenças de exploração da pesca para estrangeiros, o principal motivo do boom econômico dos anos 90.
O petróleo promete muito mais: o governo local vai arrecadar US$ 380 milhões só com a venda das licenças de exploração para as empresas vencedoras da licitação.
Entre elas estão a anglo-holandesa Shell, a italiana Agip e a malvinense Desire -a proposta conjunta entre a argentina YPF e a britânica British Gas foi recusada.
Além disso, as Malvinas ficariam com 9% do petróleo extraído. O Tesouro britânico não pensa da mesma forma e quer sua parte.
O Reino Unido injetou US$ 83 milhões em obras de infra-estrutura nas ilhas, sem contar o novo aeroporto de Mount Pleasant. E ainda mantém por lá cerca de 2.500 soldados, investindo anualmente US$ 117 milhões.
"Gastamos o dinheiro justo para a defesa, nem um centavo a mais", diz Richard Ralph, governador designado pela rainha.
Diante do impasse, britânicos e malvinenses estão em campos opostos e, desse enfrentamento, depende o futuro das ilhas.

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