São Paulo, terça-feira, 11 de março de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ofensiva jurídica tenta impedir o leilão da Vale

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

Os setores que se opõem à privatização da Companhia Vale do Rio Doce vão iniciar esta semana uma ofensiva jurídica na tentativa de impedir a venda da empresa. O leilão de controle do capital da Vale, primeira etapa da privatização, está previsto para o dia 29 de abril.
"Vai ser o impeachment da privatização da Vale", disse o advogado Marcello Cerqueira, um dos encarregados de encaminhar as ações que serão impetradas.
O uso do termo impeachment decorre da intenção de usar contra o leilão um método semelhante ao usado para o documento encaminhado ao STF (Supremo Tribunal Federal) em 92, pedindo o impeachment de Fernando Collor.
A ação popular será encabeçada pelo presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Barbosa Lima Sobrinho, e pelo presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), como ocorreu no pedido de impeachment de Collor.
Segundo Cerqueira, deverão ser impetrados quatro mandatos de segurança contra o presidente Fernando Henrique Cardoso e mais duas ações diretas de inconstitucionalidade contra aspectos da privatização da Vale.
Cerqueira disse que vários aspectos legais podem servir de base às ações, mas não quis revelá-los para não dar prematuramente armas para o governo se defender.
Relatório
O principal argumento é um relatório da Coppe-UFRJ (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio) feito para a Comissão Externa da Câmara que examina a privatização.
Com base em dados da sala de informações sobre a Vale montada pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), o relatório (feito por 22 técnicos) questionam a venda.
Para os técnicos da Coppe, o preço para o total das ações da estatal é pelo menos US$ 2,06 bilhões maior que o calculado pelos consultores que avaliaram a estatal.
O maior preço proposto pelos consultores foi R$ 10,05 bilhões. O governo fixou o preço mínimo total da Vale em R$ 10,36 bilhões.
Os técnicos dizem ainda haver indícios de urânio em Carajás. Se houver urânio em escala comercial, a exploração, pela lei, só pode ser feita por empresa estatal.
A comissão da Câmara suspeita que a Merrill Lynch, coordenadora da privatização, seja a principal corretora, na África do Sul, das operações da Anglo American, interessada na Vale, no mercado de capitais daquele país. A corretora diz que suas relações com a Anglo American não interferem nos papéis de ambas no leilão da Vale.
O BNDES se recusou a comentar o relatório e as conclusões da comissão, dizendo não ter conhecimento oficial dos documentos.

Texto Anterior: O impacto das reformas
Próximo Texto: Votorantim tenta fazer consórcio com japoneses
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.