São Paulo, domingo, 16 de março de 1997
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BID espera reformas estruturais no Brasil

LUCIA MARTINS
ENVIADA ESPECIAL A BARCELONA

As reformas do Estado são hoje a principal preocupação e área de interesse do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) para conceder financiamentos ao Brasil, seguidas pela redução do "custo Brasil" e pelos projetos sociais.
Tanto é assim que o projeto mais caro que o BID vai pagar este ano é o de reforma fiscal dos Estados e municípios brasileiros.
São cerca de US$ 500 milhões, quase um terço do US$ 1,7 bilhão que o país pegou emprestado no ano passado para usar este ano.
"O banco tenta, na verdade, suprir necessidades e financiar projetos que já são temas e demandas do país, como as reformas", diz Ricardo Santiago, gerente do BID, responsável pelos países do Mercosul, Chile e Bolívia.
Peso do Brasil
Em números absolutos, o peso do Brasil nas contas de devedores do BID é grande: apesar de não ser o maior (o México lidera), "comeu" a maior fatia (US$ 1,7 bilhão) dos US$ 6,5 bilhões.
Além disso, as contas brasileiras com o BID dobraram nos últimos quatro anos. O aumento é resultado de dois fatores principais: o crescimento do capital do BID (dobrou desde 90, passando de US$ 3 bilhões para mais de US$ 6,5 bilhões) e a estabilização da economia brasileira.
Amanhã, os governadores do banco -os representantes dos 46 países-sócios do BID- começam a discutir as metas para o próximo ano. Mais do que tomar decisões (a maioria dos acordos são feitos no "gabinete" durante o ano), o encontro em Barcelona vai funcionar como um encontro político, de conversas de governos.
O ministro Antonio Kandir (Planejamento) é o "governador" brasileiro. Vai participar do encontro com a outra face do Brasil no BID, a de dono do banco. O Brasil é o segundo maior acionista, com 11%. Perde apenas para os EUA, que têm 30%.
Mas este ano, diz Santiago, nenhuma grande mudança de rumos do banco é esperada. "O banco passa por um bom momento, principalmente por causa da estabilização da economia na maioria dos países da América Latina. Então, esse encontro deverá funcionar como um palco para discussões políticas", afirma Santiago.
Além das reformas, pode ser discutida a possibilidade de o banco começar a financiar projetos de Estados e municípios sem que eles passem pelo governo federal.
Segundo o presidente do BID, Enrique Iglesias, a idéia partiu de alguns governadores e prefeitos. Ele, no entanto, se recusa a dar opinião sobre o assunto. Diz que, primeiro, a idéia tem de passar pela aprovação dos governadores.
Mas, nos últimos dois anos, uma idéia semelhante foi aprovada e colocada em prática. O BID destinou 5% de sua verba de empréstimos para financiar projetos de empresas privadas (No Rio, paga a construção da Linha Amarela).
"Não acho que essa proposta seja discutida já este ano. E, no final das contas, a responsabilidade real pelas dívidas é dos governos federais", diz Santiago.

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