São Paulo, domingo, 16 de março de 1997
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Centros se dedicam a alterar animais

RICARDO BONALUME NETRO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Animais transgênicos deverão ser obtidos em quantidades respeitáveis quando ficar pronto um projeto da Fundação Bio-Rio. "A idéia é criar um biotério onde camundongos transgênicos poderão ser gerados para a comunidade científica brasileira", diz o coordenador do projeto, Antônio Carlos Campos de Carvalho, do Instituto de Biofísica da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
O suporte científico-tecnológico para o projeto, diz Carvalho, está sendo dado por uma pesquisadora que já trabalhou com animais transgênicos na França, Eliana Abdelhay, também do instituto.
Carvalho cita dois bons exemplos da utilidade desses animais para a pesquisa. "Uma pós-doutoranda do laboratório de Abdelhay, Mônica Sequeira, desenvolve camundongos transgênicos para estudar a regulação do gene MSX-1, envolvido na formação de estruturas crânio-faciais e de membros de vertebrados". Malformações no crânio e na face estão associadas à falta de expressão deste gene.
Outro aluno de pós-doutorado, Mauro Weyne Costa, vinculado ao laboratório de Carvalho, está hoje no Albert Einstein College of Medicine, em Nova York, trabalhando no desenvolvimento de outro camundongo transgênico, "com a finalidade de estudar a expressão do gene da conexina 40, uma proteína envolvida na condução do impulso elétrico no coração", segundo Carvalho.
Depois da inseminação artificial e da transferência de embriões se tornarem populares na pecuária mundial, chegou a vez das técnicas de produção in vitro de embriões, de clonagem e de produção de animais transgênicos, que estão forçando os centros de pesquisa de veterinária e zootecnia a se aliarem aos biólogos moleculares.
É o caso da colaboração do Laboratório de Embriologia e Biotécnicas de Reprodução, da Faculdade de Veterinária da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e do Centro de Biotecnologia da mesma universidade. Os dois grupos, liderados respectivamente por José Luiz Rodrigues e Diógenes Santos, estão iniciando experimentos com camundongos.
"A partir dessas experiências iniciais vamos elaborar novos protocolos para um projeto de longo prazo e tentar acompanhar o desenvolvimento dessa área do conhecimento", diz Rodrigues.
Ou seja, talvez produzir uma ovelha, ou uma vaca, modificada geneticamente para produzir uma substância útil, como um fármaco.
As vantagens de um organismo transgênico podem vir de onde menos se espera, como o fermento do pão. É o caso da pesquisa de Pedro Soares de Araújo, do Departamento de Bioquímica do Instituto de Química da USP. Ele pesquisa a "anidrobiose", a propriedade que alguns organismos apresentam de resistir à desidratação quase total.
Seria uma característica extremamente útil para ser enxertada em uma planta como o milho, a soja ou o feijão, pois diminuiria os efeitos de uma seca na agricultura.
(RBN)

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