São Paulo, domingo, 16 de março de 1997
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País pode exportar crime organizado

ANDREW GUMBEL
DO "THE INDEPENDENT", EM ROMA

Um êxodo em massa de albaneses em direção à Itália, como o de 1991, talvez seja o menor dos problemas que a comunidade internacional tenha de enfrentar.
Nos últimos seis anos os albaneses já aprenderam o suficiente sobre o mundo externo para compreender que, se optarem por fugir para o exterior, jamais conseguirão fazer outra coisa senão trabalhos manuais cansativos, enfadonhos e mal pagos.
Segundo especialistas em criminalidade, é muito mais provável que optem por ficar em seu país e montar um imenso bazar de armas, lucrando com a exportação do crime organizado para a Europa Ocidental e outros lugares.
A expansão da insurreição armada no país foi acompanhada pelo aumento dramático no número de Kalachnikovs roubados em circulação. Comandantes rebeldes estimam que apenas na cidade de Sarandë, no sul do país, haja entre 5.000 e 6.000 armas automáticas em mãos de populares.
É possível que as armas circulem nos Bálcãs, para alimentar outros conflitos regionais.
Nos últimos dias, depósitos do Exército foram saqueados nas cidades setentrionais de Tropojë e Bajram Curri -não para armar os defensores do presidente Sali Berisha, como informaram algumas organizações de notícias, mas para criar oportunidades de negócio com albaneses de Kossovo.
O governo grego é o mais diretamente afetado pela ameaça de contrabando de armas. A situação de seu posto de fronteira com a Albânia, em Kakavia, vem se tornando cada vez mais tumultuada. Primeiro os policiais da alfândega albanesa entregaram suas armas e fugiram, depois gangues armadas invadiram a área para tomar carros e outros produtos vindos da Grécia.
Desde o início do conflito, o Exército grego estabeleceu barreiras policiais que se estendem por toda a fronteira albanesa e por parte da fronteira com a Macedônia.
Soldados revistam todos os carros, tanto na fronteira quanto na cidade de Kalpaki, 24 km adiante. Representantes gregos em Atenas dizem que há também um terceiro nível de segurança, operado por agentes secretos à espreita de potenciais contrabandistas.
O outro vizinho chave da Albânia, a Itália, está ainda mais exposto ao fluxo de armas e drogas, porque sua costa Adriática é sabidamente aberta a atividades de contrabando e porque suas próprias organizações mafiosas já têm operações conjuntas com a Albânia.
A Itália recebe grandes quantidades de heroína que vem por rotas estabelecidas do narcotráfico. Segundo investigadores italianos, o país vem sendo usado como ponto de entrada de armas que saem da região dos Bálcãs para revenda na África e América do Sul.
Essas questões não têm sido muito comentadas em público, nem na Itália nem na Grécia. A imprensa e os governos preferem falar sobre o risco mais tangível, mas muito menos relevante da emigração em massa. Mas muitos dos albaneses que estão fugindo são integrantes das Forças Armadas ou do governo de Berisha -pessoas que têm razões políticas, e não pessoais, para tentar escapar.

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