São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 1997
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PT "corre atrás" da visibilidade do MST

EMANUEL NERI
LUIS HENRIQUE AMARAL

EMANUEL NERI; LUIS HENRIQUE AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

Na "carona" do movimento, partido organiza agenda intensa, como a participação em manifestação ontem

Com a desmobilização de seus movimentos sociais, o PT corre agora atrás do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Os principais líderes do PT, entre eles Luiz Inácio Lula da Silva, são vistos com mais frequência no palanque do MST.
A reforma agrária sempre foi uma bandeira do PT. Mas o partido nunca teve tanta intimidade com o MST como a que está tendo agora. No último dia 2, Lula comandou um grupo de petistas em uma colheita simbólica de milho na fazenda São Domingos, no Pontal do Paranapanema (SP).
Há duas semanas, uma tentativa de invasão daquela fazenda foi respondida a tiros por fazendeiros. Oito pessoas ficaram feridas. As bandeiras do PT voltaram a tremular na manifestação que os sem-terra fizeram sexta-feira (dia 7) no Pacaembu, em São Paulo.
O MST é considerado hoje o maior movimento social do país. Na "carona" de suas atividades, o PT organiza intensa agenda. Ontem, por exemplo, o partido marcou participação na fazenda São Domingos levando 50 ônibus para o Pontal (ver texto abaixo).
Com exceção da direção do PT, outros petistas reconhecem que o partido redireciona suas energias para o MST. Filiada ao PT, a socióloga Maria Vitória Benevides diz que a aproximação com o movimento dos sem-terra "dá um novo vigor à alma do partido".
Para ela, o PT perdeu fôlego em movimentos sociais urbanos, graças ao êxito do real e da queda da inflação. "Ou o PT pega rapidinho o MST ou acaba perdendo também no setor rural". Segundo ela, o MST é o único movimento que FHC não conseguiu destruir.
Outra petista que acompanha de perto os passos do partido, a urbanista Ermínia Maricato identificou em pesquisa, feita na zona sul de São Paulo, um refluxo em movimentos sociais pilotados diretamente pelo PT, nas áreas de moradia, transporte e saúde.
"O PT é ainda um espaço de resistência para os movimentos sociais", afirma Maricato, que foi secretária no governo de Luiza Erundina em São Paulo. Mas, para ela, o MST é hoje "maior que o PT" no cenário político do país. "O MST tem uma luz maior", declara.
Presidente do PT, José Dirceu discorda da avaliação de que o partido esteja correndo atrás do prestígio do MST. "O PT sempre esteve ao lado do MST, participando de todas as suas manifestações."
Para ele, o que aumentou no PT em relação ao MST foi "solidariedade pelo fato de o governo permitir que latifundiários armem pistoleiros" para enfrentar o movimento. "A pistolagem está solta. O PT tem que prestar solidariedade."
"Temos articulações políticas com os movimentos sociais", afirma Dirceu. "O PT apóia movimentos feitos pela CUT, pelo MST ou pela OAB." Mas, segundo ele, há independência desses movimentos. "A CUT tem tanta independência do PT quanto o MST."
O deputado José Genoino (PT-SP) também discorda da versão de que o PT pega "carona" no MST. Mas diz que um partido com o perfil do PT tem que atirar em direção ao local por onde passa a luta política. "O partido não escolhe. É a conjuntura que indica."

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