São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 1997 |
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"Viúva" é sátira avassaladora do jornalismo
NELSON DE SÁ
A peça foi escrita poucos meses depois de "Perdoa-me por Me Traíres" ter sido destroçada pela crítica carioca nos anos 50, em especial por um "crítico da nova geração", como o chamou Nelson Rodrigues, de nome Paulo Francis. Anarquia O dramaturgo vingou-se com uma farsa anárquica, tanto mais engraçada quanto apresentada durante um festival de teatro, na montagem carnavalesca de Marco Antonio Braz. É a caricatura da imprensa, desde o dono do jornal ("A falência do Brasil sempre vendeu jornal", diz, justificando uma manchete), passando pelo diretor de redação (anuncia com prazer outra campanha de "demagogia sórdida" contra uma obra de caridade), chegando ao crítico de teatro ("A única coisa que eu admiro nas mulheres é que elas não cospem na rua", declara o crítico Dorothy Dalton, desmunhecando). Obsessões Também aqui, claro, estão presentes as obsessões do dramaturgo, no caso retratadas na figura da "viúva, porém honesta", que "não senta". É a filha do dono do jornal, obrigada a casar com o crítico Dorothy Dalton, que morre atropelado por um carrinho de Chicabon e deixa a esposa inconsolável. Ela não quer mais "sentar". O pai reúne "técnicos" na matéria, uma dona de bordel, um psicanalista, o próprio Diabo da Fonseca, para "curar" a filha. Derruba um a um, todos os "técnicos", em meio a frases rodriguianas como "o que estraga o adultério é a clandestinidade". Sensualidade A peça é sensual, apelativa, grosseira em muita parte. Mais de uma vez, na crítica em livro, foi possível distinguir a definição de "Viúva" como uma das ou a pior peça de Nelson Rodrigues. Pois não é: é a mais engraçada, certamente, e também a sátira mais avassaladora já vista em teatro das redações de jornal. (NS) Texto Anterior: "Perpétua" mistura sonho e realidade Próximo Texto: Manifestação destrói posto policial Índice |
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