São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 1997
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Mulher quer tratar ginecologia sozinha

AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

As mulheres querem de volta, no terreno da saúde, o papel que perderam "quando as feiticeiras foram queimadas em fogueiras por saberem demais".
A "casta" dos médicos obstetras e ginecologistas, particularmente, "é um exemplo quase caricatural da expropriação de que foram vítimas as mulheres". "Hoje, a ginecologia está nas mãos dos homens, que não têm útero nem vagina."
O libelo feminista faz parte da introdução do livro "Mamamélis, Um Guia de Ginecologia Natural" (Editora Rosa dos Tempos/Record, R$ 19), lançado ontem no 8º Encontro Internacional Mulher e Saúde, que acontece no Rio.
A autora é a enfermeira suíça Rina Nissim, 45, que já peregrinou por "clínicas feministas" dos EUA e da Europa e pesquisou as práticas da medicina natural na Índia.
O livro foi lançado em língua francesa há dez anos e chega ao Brasil com tradução e adaptação da médica Maria José de Oliveira Araújo, do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, em São Paulo.
Apesar do tom irado da introdução, o livro não é um confronto com a medicina ocidental tradicional, diz a autora. Nas suas 246 páginas, o livro se faz um manual capaz de ajudar a mulher a entender o que acontece com seu corpo, permitir que interrogue seu médico e tome ela própria as decisões.
Para cada uma das enfermidades tratadas, o livro descreve sintomas, tratamento convencional e lista terapias alternativas.
"São receitas simples", diz Rina Nissim. "As mulheres sentem que têm os corpos em suas mãos." A discussão inclui um dos tema mais polêmicos do encontro do Rio, a "desmedicalização".
"Não estamos negando a importância da medicina convencional. Estamos criticando esse modelo que nos exclui."
A "desmedicalização" faz críticas ao excesso de exames solicitados de rotina. Os testes que detectam malformações do feto, por exemplo, hoje solicitados também para mulheres jovens, "acabam criando mais angústia do que trazendo tranquilidade", diz Rina.
O presidente da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro, Ricardo Oliveira e Silva, concorda que quanto mais informações a mulher tiver sobre o seu corpo melhor, porque ela se torna co-responsável junto ao médico.
"No entanto, não acho que formas alternativas de medicamento, que às vezes não têm embasamento famarcológico e científico, possam ajudar. Essa formas têm embasamento emocional e místico."
O presidente ressalta que o melhor método na área ginecológica é aliar a tecnologia avançada com uma conversa franca. Mas afirma que a baixa remuneração de muitos médicos faz com que não haja muitos esclarecimentos.

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