São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 1997
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Covas quer carro a álcool fora do rodízio

FABIO SCHIVARTCHE; ROGERIO SCHLEGEL; RAQUEL ULHÔA
DA REPORTAGEM LOCAL E DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governador de São Paulo, Mário Covas, disse ontem que quer excluir os carros a álcool do rodízio antipoluição da Grande São Paulo, "se for viável".
"É uma forma de estimular o uso do carro a álcool", afirmou o governador, durante encontro promovido pela Frente Parlamentar Sucroalcooleira, em Brasília.
No ano passado, o rodízio foi realizado apenas no mês de agosto e incluiu todos os carros particulares, a gasolina, álcool ou diesel.
A sugestão de excluir os carros a álcool foi feita pelo ex-prefeito de Piracicaba Mendes Thame.
"Vamos acatar a sugestão, mas temos de ver a forma legal", afirmou o governador. Segundo ele, a idéia é boa, porque o objetivo principal do rodízio é reduzir a poluição, e os carros a álcool seriam pouco poluentes e em número "muito pequeno".
Covas ressaltou que pretende incluir a sugestão no projeto do Executivo sobre rodízio que será encaminhado à Assembléia Legislativa "se for viável".
A proposta tem pelo menos quatro problemas, que fizeram com que fosse descartada pela Secretaria do Meio Ambiente no rodízio de 96, segundo apurou a Folha:
1 - Os carros a álcool poluem menos, mas poluem. A frota a álcool gera 17% do total de monóxido de carbono emitido na Grande São Paulo, de acordo com estimativa da Cetesb para 1995.
Também responde por 19% do total de hidrocarbonetos. A frota a gasolina gera 49% do total de monóxido de carbono e 53% de hidrocarbonetos.
2 - Os carros a álcool prejudicam o trânsito da mesma forma que os veículos a gasolina, embora em menor proporção. Representam 31% do total de veículos leves da Grande São Paulo, segundo levantamento de janeiro de 96 do Detran.
Um dos principais benefícios do rodízio do ano passado foi dar maior fluidez ao trânsito. Mais veículos na rua, mesmo que sejam carros que poluam menos, podem diminuir o ganho da operação.
3 - É difícil organizar a fiscalização para separar os carros a álcool, que não seriam multados, como o próprio Covas lembrou ontem. Uma opção é a criação de um "selo verde", que teria que ser exposto no pára-brisa, por exemplo.
Mas ele exigiria que o dono provasse ter carro a álcool ao governo. Também há o risco de o selo ser transferido para carros a gasolina.
4 - A Secretaria do Meio Ambiente não pretendia excluir os carros a álcool do rodízio. Segundo a Folha apurou, as discussões do ano passado mostraram que a proposta é tecnicamente pouco viável.
O secretário Fábio Feldmann não foi localizado até as 19h de ontem para comentar a idéia.
(FABIO SCHIVARTCHE, ROGERIO SCHLEGEL e RAQUEL ULHÔA)

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