São Paulo, domingo, 23 de março de 1997
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Parceiro de PC traficava drogas e armas

HUMBERTO SACCOMANDI
LUCAS FIGUEIREDO

HUMBERTO SACCOMANDI; LUCAS FIGUEIREDO
ENVIADOS ESPECIAIS À CALÁBRIA (ITÁLIA)

Documentos da Justiça italiana compõem perfil de Angelo Zanetti, que lavou dinheiro com o brasileiro

Documentos da Justiça italiana obtidos pela Folha revelam que Angelo Zanetti, 58, parceiro de Paulo César Farias, o PC, em operação de lavagem de dinheiro do narcotráfico, atuava também no comércio ilegal de armas pesadas, drogas e outras atividades ilícitas.
O perfil do parceiro que depositou pelo menos US$ 12 milhões em contas de PC consta da denúncia encaminhada pela Procuradoria da República da cidade de Turim à Justiça italiana, que resultou num processo ainda em andamento.
O documento, dois volumes que somam 615 páginas, pede a abertura de ação contra 43 acusados por, entre outras coisas, narcotráfico e associação mafiosa. Hoje os processados nesse caso já são 70, segundo informou o procurador-adjunto de Turim, Marcello Maddalena. Para ele, PC estaria sendo processado na Itália se não tivesse sido assassinado.
A denúncia traz depoimentos de dois mafiosos "arrependidos". Antonio Scambia, 66, e Arturo Martucci, 51, descrevem minuciosamente o maior esquema de tráfico de cocaína para a Europa descoberto até hoje, desmembrado com uma megaapreensão de 5,5 toneladas em 1994. Eles explicam, por exemplo, que carregamentos de cocaína chegaram ao porto de Gênova (Itália) a partir do Brasil, escondidos no fundo falso de contêineres carregados com balas Juquinha e Chupa-chupa.
As empresas brasileiras que fabricam esses produtos ignoravam que estavam sendo usadas para camuflar o narcotráfico. Num depoimento, Scambia acusa agentes da polícia brasileira de terem se apropriado, em 1993, de 900 kg de cocaína, que faziam parte de uma carga apreendida no país. A PF nega.
Nos interrogatórios, os mafiosos revelam que o faturamento obtido com a venda da droga chegava, na época, a 275%, com a compra de 1 kg de cocaína a US$ 5.000 e a venda por US$ 18.750. De 91 a 94, período no qual a rede funcionou, o tráfico rendeu cerca de US$ 113,25 milhões. O envolvimento de PC Farias com essa rede foi divulgado pela Folha no último dia 10. A PF procura saber agora qual o papel de PC no esquema e onde foi parar o dinheiro. Para os investigadores italianos, PC pode ter sido financiador, operador do tráfico, ou ambos.

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