São Paulo, domingo, 23 de março de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Homem não passa de serviçal em seminário sobre mulheres

AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Elas vieram de 72 países, ocuparam 480 quartos e se fecharam em 19 salas e 190 conferências e oficinas, durante cinco dias. Homens só foram admitidos em caso de pane nos equipamentos.
Pode parecer estranho que mulheres ainda se apartem dos homens em encontros às vésperas do ano 2000. Mas o relato de muitas das participantes do "8º Encontro Internacional Mulher e Saúde", realizado esta semana no Hotel Glória do Rio, mostrou que ainda sobram motivos para isso.
Mulheres islâmicas fugiam das fotografias com medo de serem reconhecidas pelos seus maridos ou por seus governos. Vieram "às escondidas", financiadas por organizações internacionais.
Egípcias disseram que 80% das mulheres de seus países ainda sofrem mutilações sexuais. Mulheres que vieram ou estiveram em regiões em conflito -como a Bósnia, Timor Leste ou Ruanda- relataram estupros em massa como prática cotidiana. Africanas com HIV disseram ser tratadas como "matadoras de homens".
A violência contra a mulher -em casa e nas ruas-, a opressão no trabalho, o aborto ilegal, a queda na qualidade dos serviços de saúde e o avanço do conservadorismo foram os eixos centrais desse encontro que acontece a cada três ano. O tom cinza desse cenário, segundo as mulheres, vem sendo dado pela ascensão do "fundamentalismo de mercado" e do "fundamentalismo religioso".
"O alvo principal dessas correntes são as mulheres e suas conquistas", diz Sônia Corrêa, da Comissão de Cidadania e Reprodução.
As novas tendências, juntadas ao empobrecimento das pessoas e dos Estados, formariam o caldo ideal para o medo. E quando as pessoas sentem medo, a tendência é voltar ao passado, ao que é conhecido e traz segurança.
O balanço preocupante não impediu que o encontro fosse uma animada mistura de cantorias em quatro línguas e trajes tão diversos como jeans e turbantes.
"As mulheres são assim, se abraçam, se beijam, são fraternas", diz Eleonora Menicucci, com a experiência de duas décadas de feminismo e saúde.
As brasileiras, aliás, foram saudadas por européias e americanas como a linha de frente do feminismo. As mulheres voltam a se ver no Canadá, no ano 2001, para o 9º encontro. Elas acreditam que até lá os homens poderão ser aceitos, pelo menos como observadores.

Texto Anterior: Mulheres fazem cinema em casa
Próximo Texto: Diadema abre observatório
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.