São Paulo, domingo, 23 de março de 1997 |
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WR, quem diria...
MARIA RITA KEHL
A obra de Reich trouxe um apoio teórico e ideológico para nossas esperanças. Recuperou para a psicanálise sua radicalidade primordial, ao fazer do sexo, concretamente, a força motriz do inconsciente -e do inconsciente sexuado a força que revolucionaria o mundo. A concretude anatômica de sua concepção sobre o sexual lhe valera a exclusão do círculo freudiano, em 1934, assim como a associação sexo-política (a Sexpol) lhe custara a expulsão do PC alemão. Um herói, um maldito, um visionário, um "drop-out", cujo discurso apontava com alegria para nossos corpos e seu poder explosivo -nos anos 70, cada clínica reichiana era como um depósito de armas clandestinas. "A Função do Orgasmo", "Psicologia de Massas do Fascismo" e "Análise do Caráter" (o melhor e mais difícil de seus livros, que quase ninguém leu) teriam sido nossos manuais de técnicas de guerrilha: o corpo contra o poder. Mas então a abertura começou, lenta e gradual. Caetano Veloso disse que era para o mundo ficar odara (uma chatice que eu nunca lhe perdoarei). A indústria cultural descobriu que o corpo, antes de uma potência revolucionária, tinha um enorme potencial de mercado -a revolução sexual foi para os shoppings, as academias e as novelas de televisão. A bioenergética reichiana, começando pelos trabalhos de Alexander Lowen nos EUA (como sempre), foi perdendo o apelo político e, em seguida, sua conexão com o inconsciente. O corpo bioenergético virou uma coisa autônoma, um objeto a se manipular e a se adequar à cultura do narcisismo. Alguns profissionais sérios ainda pesquisam uma clínica reichiana consequente, mas são minoria aqui. Reich no Brasil, quem diria, virou musculação, aeróbica, além do bom e velho Carnaval. Texto Anterior: Os mistérios de Wilhelm Reich Próximo Texto: VERDADES E MENTIRAS Índice |
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